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Explicador Madeira

'The Velvet Sundown' é a banda que não existe e já conquistou milhares de fãs

No início de Junho, um nome começou a circular nas plataformas de 'streaming' e depressa conquistou fãs um pouco por todo o mundo. Com dois álbuns lançados quase de seguida e com mais de meio milhão de ouvintes no Spotify, em poucas semanas, os 'The Velvet Sundown' conseguiram um feito notável para uma banda independente que nunca ninguém tinha ouvido falar. Porém, havia um detalhe, tudo indicava que o grupo não passava de uma criação do mundo virtual. 

As primeiras dúvidas sobre a verdadeira natureza dos 'The Velvet Sundown' surgiram quando os fãs e curiosos perceberam que, por mais que procurassem, não encontravam qualquer prova concreta da existência dos seus membros. Foi então que ganhou força a hipótese de estarmos perante uma criação puramente tecnológica, moldada pela inteligência artificial.

Embora o grupo apareça no Spotify com o selo de 'Artista Verificado', na altura a descrição oficial da banda deixava no ar algumas incoerências. Entre elas, destacava-se uma suposta citação da Billboard (conceituada revista da indústria musical): "soam como a memória de algo que nunca viveu e, ainda assim, fazem com que pareça real". Acontece que a frase é pura invenção e nunca foi publicada pela revista.

Além disso, nem a banda nem os seus quatro supostos membros - descritos como "Gabe Farrow, vocalista e feiticeiro do mellotron, o guitarrista Lennie West, o alquimista baixista e sintetizador Milo Rains e o percussionista de espírito livre Orion 'Rio' Del Mar" - tinham qualquer presença nas redes sociais. Só no passado dia 27 de Junho surgiu um perfil do grupo, acompanhado também por várias fotografias geradas por inteligência artificial.

O caso ganhou um tom quase de novela quando também a Rolling Stone, outra conceituada revista musical, publicou uma entrevista com Andrew Frelon, que se apresentava como o manager da banda e admitia que as músicas eram produzidas por inteligência artificial. Poucas horas depois, os 'The Velvet Sundown' desmentiram qualquer ligação a Frelon, acusando-o de inventar entrevistas e perfis falsos. Mais tarde, Frelon acabou por admitir que tinha enganado a revista.

Foi então, que quando o mistério começou a perder força, os responsáveis pelo projecto quebraram o silêncio: "The Velvet Sundown é uma experiência de música sintética orientada por uma direcção criativa humana, em que a composição, a interpretação e o lado visual contam com o apoio da inteligência artificial. Não é um truque - é um espelho. Uma provocação artística pensada para questionar os limites da autoria, da identidade e do próprio futuro da música na era da IA".

Ainda assim, a identidade por trás dos 'The Velvet Sundown' continua envolta em mistério. O projecto, distribuído pela DistroKid, também está disponível no YouTube, Apple Music e Amazon Music, sem qualquer referência explícita ao uso de inteligência artificial. Já no Deezer, a abordagem é diferente. Através de uma ferramenta própria para detectar músicas geradas por IA, a plataforma assinala que a banda não existe de facto. Assim, quem ouve os álbuns através da aplicação encontra a seguinte notificação: "Conteúdo gerado por IA. Algumas faixas deste álbum podem ter sido criadas usando inteligência artificial".

Entretanto no Spotify, o perfil da banda já foi actualizado, onde além de outra informação, possui a seguinte nota: "Todos os personagens, histórias, músicas, vozes e letras são criações originais geradas com o auxílio de ferramentas de inteligência artificial empregadas como instrumentos criativos. Qualquer semelhança com lugares, eventos ou pessoas reais – vivas ou falecidas – é mera coincidência e não intencional".

Deezer lança ferramenta para identificar músicas criadas por Inteligência Artificial

A Deezer, plataforma global de experiências musicais, lançou em Junho o primeiro sistema de identificação por inteligência artificial (IA) do mundo voltado para o streaming de música, com a nova funcionalidade permite exibir de forma clara quais álbuns incluem faixas totalmente geradas por IA.

Recentemente, a empresa também anunciou o lançamento de sua avançada ferramenta de detecção de músicas criadas por inteligência artificial, revelando que quase um quinto (18%) de todo o conteúdo musical enviado diariamente - mais de 20 mil faixas - é 100% gerado por IA.

"Detectamos um aumento significativo no envio de músicas geradas por IA apenas nos últimos meses e não vemos sinais de desaceleração. Trata-se de um problema que atinge todo o sector, e estamos comprometidos em liderar o caminho rumo à transparência, ajudando os fãs de música a identificar quais álbuns incluem conteúdo criado por IA", afirmoi Alexis Lanternier, CEO da Deezer.

Na nota publicada no site da empresa, é dito que a ferramenta de detecção de música por IA da Deezer estabelece um novo padrão para o sector, com capacidade de identificar conteúdo 100% gerado por IA a partir dos modelos generativos mais populares - como Suno e Udio -, e com possibilidade de adicionar capacidade de detecção para praticamente qualquer outra ferramenta semelhante, desde que haja acesso a exemplos de dados relevantes. Além disso, a Deezer avançou significativamente na criação de um sistema com maior capacidade de generalização, capaz de detectar conteúdo gerado por IA mesmo sem um conjunto de dados específico para treinamento.