Será a imigração um dos responsáveis pelo envelhecimento da população?
Na última segunda-feira, o DIÁRIO deu conta do aumento de 25 mil idosos, na população residente na Madeira, nos últimos 30 anos. A população com mais de 65 anos aumentou 82%.
A esse propósito, vários foram os comentários dos leitores do DIÁRIO deixados, em especial, nas redes sociais.
Um desses comentários, na mesma linha de alguns outros que tendem a culpar tudo o que é diferente pelos males da sociedade, disse ser normal haver um aumento na população idosa, atribuindo essa normalidade aos efeitos da emigração. Diz o leitor que, “normalmente, primeiro vêm os velhotes…” Será verdade o que afirma?
A realidade empírica contraria a firmação do leitor. Como se constata, a esmagadora maioria dos imigrantes económicos, em Portugal e nos demais países, são-no em idade activa, logo com idades muito abaixo dos 65 anos. Em Portugal, os imigrantes por questões humanitárias são em número residual, quando comprado com a totalidade.
Mas, a verificação de factos não se pode basear em percepções da realidade. Há que fundamentar as avaliações em dados objectivos e acessíveis à generalidade das pessoas. Por isso, a veracidade ou falsidade da afirmação do leitor será feita com recurso a dados estatísticos oficiais de Portugal.
Uma das entidades que, em Portugal, mais têm trabalhado a estatística demográfica e social do País, tem sido a Fundação Manuel dos Santos - PORDATA. Socorremo-nos do ‘retrato da população estrangeira e fluxos migratórios em Portugal’, com referência a Dezembro de 2023.
“Em comparação com a população portuguesa, a população estrangeira em Portugal tem uma proporção superior de homens e é mais jovem: 6 em cada 10 têm entre 15 e 44 anos. A idade mediana dos portugueses é 48 anos, em contraste com os 37 anos da população estrangeira”, diz o estudo da PORDATA.
Mas, vejamos outros aspectos. Apenas 9,4% da população estrangeira tem menos de 15 anos e 18.9% mais de 55 anos. Ora, a população portuguesa tem 39,1% da população com mais de 55 anos.
Entre os 15 e os 34 anos e entre os 35 e os 55 anos, a percentagem de população estrangeira É muito mais elevada do que a percentagem da população portuguesa. Isso significa que a população estrageira é bem mais nova do que a portuguesa, por isso, não podem os imigrantes ser responsáveis pelo envelhecimento da população residente no País.
Outro facto que mostra como os emigrantes não contribuem para o envelhecimento da população, pelo contrário, é dado com o peso dos alunos no sistema de ensino. “O aumento da população estrangeira a residir em Portugal reflecte-se também nos diversos níveis de ensino. No ensino básico e secundário, o número de alunos inscritos nas escolas do continente duplicou nos últimos 5 anos, tendo passado de 49.669 alunos de nacionalidade estrangeira no ano letivo de 2016/17 para 105.855 no ano lectivo de 2021/22. No 1.º ciclo, uma em cada dez crianças é estrangeira.”
Ainda que não relacionado com as idades dos migrantes, uma nota para o saldo migratório que é positivo, desde 2019, contrariando o que aconteceu antes. “Desde 2019 que o número de imigrantes é três vezes maior do que o de emigrantes, contribuindo para os saldos migratórios positivos. Entre 2011 e 2016, o saldo foi negativo, com mais saídas do que entradas no território português.”
Como se verifica, ao contrário do que é sugerido e afirmado por alguns leitores, os imigrantes não só não contribuem para o envelhecimento da população residente em Portugal, como têm um efeito contrário: contribuem para o rejuvenescimento. Assim, avaliamos como falsa a afirmação do leitor.