E que tal aprenderem Morse?
Há mais de 15 anos, quando a Madeira foi assolada por uma aluvião naquele fatídico 20 de Fevereiro, houve um sururu sobre a inexistência de comunicações. O SIRESP (Sistema de Informação para a Gestão de Emergências e Segurança Pública) tinha sido levado na enxurrada, enterrado debaixo da lama e desaparecido em combate. Até hoje, 15 anos depois, falhas como tecnologia obsoleta, limitações contratuais e ausência de autonomia para situações de emergência são alguns dos erros que o dito continua a ter.
À época, eu estava a trabalhar no hospital e tive de pedir à Rádio e à Televisão para servirem de intermediários em alguns momentos. O SIRESP, essa invenção do século que só deve ter dado para alguns meterem dinheiro ao bolso, falhou. Na altura, atribuiu-se à intempérie a falta de comunicações. E o cenário voltou a repetir-se vezes sem conta, por este brando país fora.
451 antenas satélite e 18 unidades de redundância eléctrica depois, passando por largas dezenas de milhões de euros e ainda ninguém preso, a questão que coloco é como é que ainda ninguém foi responsabilizado por essa má invenção que herdamos do governo de António Guterres.
De repente imagino os Flinstones a comunicar de uma montanha para a outra sem falhas. Uma fogueira, uma mantinha e a coisa dava-se. Realmente, a malta daquele tempo sabia fazer as coisas. Basta olhar para os caminhos romanos que duram até hoje e ver as crateras que se abrem no alcatrão em estradas feitas por engenheiros.
Não sou velha do Restelo e sou adepta de tecnologia. Mas há que convir que os radiozinhos de pilhas deram muito jeito ao povo, parecia que estava tudo a ouvir o relato no final dos anos 70.
O que mais me chocou? Ouvir os tipos da operadoras telefónicas dizerem que baixaram as capacidades das redes para que as pessoas não as sobrecarregassem. Digam isso à D. Maria que mora sozinha num quinto andar sem elevador e que não conseguiu falar com os filhos. Ou digam isso aos filhos que não conseguiram falar com os pais pelo menos para dizerem onde estavam.
Estou farta de desculpas. Estamos fartos de confiar as nossas vidas a quem brinca com o perigo, a nossa ansiedade e o nosso pânico. Já agora, ensinem morse nas escolas, pode ser que as crianças se entretenham e deixem de praticar bullying a miúdas indefesas e silenciosas, que acabam com a vida da forma que todos sabemos.
E já agora, digam ao diretor da escola que quem pratica bullying não se costuma gabar ao Conselho Diretivo. Que quem pratica bullying nem sempre o faz para se exibir no recreio, faz também pelo prazer mórbido de amedrontar silenciosamente. Sei porque senti na pele e tive de mudar de escola. Não imagino a dor de quem perde uma criança naquelas condições. Mas lamento o chorrilho de asneiras que se diz quando se ocupa um lugar de responsabilidade e se quer fugir com o rabo à seringa. Vou ali aprender morse e sinais de fumo e volto no próximo mês. Pode ser preciso no futuro.