Pensamento mágico, religião e política
O pensamento mágico é uma forma de interpretar o mundo que atribui relações causais, entre eventos, sem base lógica ou científica.
Em muitos contextos, a linha entre religião e pensamento mágico é ténue. Algumas práticas religiosas podem ser vistas como mágicas, dependendo do ponto de vista cultural ou filosófico. Muitas religiões contêm elementos de pensamento mágico — como milagres, orações com efeitos materiais, ou rituais que prometem cura ou intervenção divina.
Estados teocráticos como, por exemplo: Irão, Afeganistão, Mauritânia, Paquistão, Arábia Saudita e o Vaticano (desde 1929), misturam religião e política formalmente. Já em democracias laicas, a influência religiosa pode vir por meio de grupos de pressão ou do comportamento eleitoral dos fiéis (como em Portugal e nos Estados Unidos da América).
A religião, frequentemente, molda a política — seja como base ética, instrumento de poder ou factor de identidade nacional. O uso político da religião pode fortalecer regimes ou ser fonte de conflito.
A política é a prática de governar e tomar decisões colectivas. Envolve poder, ideologia, instituições e liderança.
Também na política o pensamento mágico é comummente utilizado. Políticos ou regimes políticos recorrerem ao pensamento mágico para manipular crenças populares, com promessas irreais ou explicações simplistas de problemas complexos. O pensamento mágico é utilizado para evitar responsabilização ou oferecer soluções fáceis, como promessas milagrosas, “curas” para crises económicas, ou teorias da conspiração.
Em momentos de crise económica, social ou política, e em períodos eleitorais, é comum que certos candidatos ou partidos proponham soluções que parecem mágicas, mas não passam de soluções simplistas para problemas que são profundamente estruturais. Essas promessas podem envolver: redução imediata do desemprego, com medidas superficiais; cortes de impostos, sem discutir a sustentabilidade financeira; aumento de pensões de reforma, sem respaldo orçamental; atribuição de subsídios a torto e a direito; crescimento económico a curto prazo, com aumento do PIB, sem uma análise concreta dos desafios macroeconómicos; reformas profundas em áreas como saúde, educação ou justiça sem um plano detalhado sobre como esses sectores seriam sustentáveis a longo prazo.
As promessas exemplificadas acima, apelam a um pensamento mágico ao sugerir que “basta fazer um X e tudo vai melhorar”, sem levar em conta os complexos factores interligados que influenciam a realidade social e económica da região ou do país.
Todos nós ouvimos, em campanhas eleitorais, fazer promessas que sugerem uma transformação quase milagrosa da economia, como se fosse possível criar empregos, aumentar salários, melhorar os serviços públicos e baixar impostos sem um plano sólido ou sem discutir as restrições orçamentais e as limitações fiscais que o país enfrenta.
Os políticos apelam ao voto com promessas de “crescimento ilimitado”, algo que vai ao encontro do desejo popular por prosperidade instantânea, mas que ignora a realidade de crescimento económico que requer reformas complexas e gestão fiscal responsável. Essas promessas podem ser acompanhadas de explicações vagas ou de anúncios de “grandes projetos”, ou de investimentos que não serão realizados.
Por outro lado, é frequente utilizarem teorias da conspiração para justificar a ascensão de outros candidatos ou ideologias. E não são só os partidos e movimentos populistas radicais que o fazem.
Essas ideias podem apelar a um pensamento mágico colectivo, onde os problemas são simplificados, a uma “luta contra o mal” (geralmente representado por uma figura ou grupo específico), sugerindo que a solução está na mudança de liderança que, de alguma forma, trará a cura para a Nação.
Esse tipo de retórica, muitas vezes, ignora o facto de que a mudança real requer mais do que a liderança de um “herói”, exige compromisso, debate público e um processo colaborativo.
O uso de promessas utópicas ou simplistas sem uma base sólida pode ser uma armadilha para os eleitores e, frequentemente, leva à desilusão quando as soluções prometidas não se concretizam.
O pensamento mágico pode confortar, mas também obscurecer a razão. A religião pode inspirar valores e solidariedade, mas também pode ser usada para dominação. A política pode ser um meio de justiça ou de manipulação. O desafio está em discernir, criticar e manter espaços abertos para o debate racional.
E dito isto, apelo a que amanhã vão todos votar em consciência, porque é a única “arma” permitida num regime democrático.