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Destino: Estados Unidos da América

É fundamental olharmos para a nossa história e refletir sobre a forma como a comunidade madeirense se instalou nos Estados Unidos da América (EUA), em que zonas se fixou e de que modo os seus descendentes continuam a preservar as tradições herdadas dos seus antepassados.

De acordo com os registos do Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, o primeiro madeirense a emigrar para os EUA partiu em 1862, tendo como destino a cidade de Nova Iorque.

O Estado de Massachusetts tornou-se um dos principais destinos da emigração madeirense. Cidades como New Bedford e Boston acolheram um número significativo de madeirenses. Houve também um importante movimento migratório de madeirenses que, inicialmente instalados no Havai, acabaram por se mudar para a Califórnia, atraídos pelas oportunidades de trabalho nos vinhedos e na agricultura.

Uma faceta menos conhecida da emigração madeirense prende-se com as perseguições religiosas que afetaram os protestantes da Madeira. Muitos desses refugiados acabaram por se radicar no Estado de Illinois. Esta vertente da diáspora é abordada no documentário da RTP “Madeirenses Errantes”.

A presença madeirense também se fez notar na cultura popular dos EUA. No filme “Captains Courageous” (1937), há um personagem de origem madeirense chamado Manuel, um pescador que salva o protagonista Harvey de morrer afogado. Numa das cenas, Manuel fala com orgulho do seu pai, dizendo que foi “o melhor pescador da ilha da Madeira”.

As tradições madeirenses mantêm-se vivas entre os descendentes dos emigrantes. Um exemplo notável é a Festa do Santíssimo Sacramento em New Bedford, organizada pela primeira vez em 1915 por madeirenses oriundos do Estreito da Calheta. Esta celebração continua a realizar-se todos os anos e existe, inclusive, um acordo de geminação entre as cidades de New Bedford e o Funchal, que simboliza esta ligação histórica

O livro “A Visão Madeirense da América”, da autoria de Duarte Mendonça, compila crónicas de 13 madeirenses que viajaram ou viveram nos EUA, recolhidas da imprensa madeirense entre 1922 e 2009. A obra oferece uma perspetiva única sobre a experiência madeirense em território americano, refletindo os sonhos, os desafios e as conquistas da nossa diáspora.

Os laços entre a Madeira e os Estados Unidos vão muito além da emigração. Estendem-se ao nível cultural, comercial e até simbólico. O brinde de celebração da assinatura da Declaração da Independência dos EUA, em 1776, foi feito com vinho da Madeira. Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da nação americana, ergueu uma taça de vinho para assinalar o momento histórico, um símbolo eloquente da presença madeirense na génese dos EUA.