A Prática Artístico-Cultural Territorial em Diálogo Multidisciplinar e Multicultural

Qualquer território, marcado pela sua geografia e rica herança histórica, pode se afirmar como polo de confluência cultural, onde a diversidade artística se entrelaça com as identidades locais e estrangeiras, residentes. O multiculturalismo, longe de ser uma mera abstração teórica, materializa-se numa realidade vivida e expressa através de múltiplas formas artísticas, promovendo o diálogo entre culturas e abrindo espaço para a criação de narrativas colaborativas que podem transcender fronteiras.

A colaboração artística emerge como uma das facetas mais proeminentes de um ecossistema cultural, por mais utópico que possa soar. A interligação entre atores, escritores, músicos, bailarinos e artistas visuais, entre outros, provenientes de diferentes formações e nacionalidades, possibilita a reinterpretação e implementação das obras, segundo perspetivas multidisciplinares e multiculturais, tornando a arte e criação, num campo fértil para inovações “estéticas” ou até mesmo conceituais. Neste contexto, a obra não se cristaliza numa única forma de expressão, mas torna-se um organismo vivo, constantemente enriquecido e sujeito a novas “leituras” ou abordagens.

A boa orientação académica e institucional poderia desempenhar um papel estruturante nesta dinâmica cultural, servindo como eixo orientador para a mobilização de referências identitárias culturais, artísticas, nacionais e históricas. A valorização do património imaterial e da tradição artística aliada à exportação cultural, confere ao território uma posição relevante no panorama artístico-cultural internacional, mesmo, e voltando a frisar, a sua possível utopia. Tal prática fomentaria um intercâmbio contínuo entre o local e o global garantindo que a cultura não se limita à sua territorialidade, mas expansível, enquanto referência.

A mobilização artística, especialmente em formatos colaborativos e coletivos multiculturais, transcende o domínio “estético” e assume uma dimensão social agregadora. As experiências partilhadas entre criadores de diferentes origens geram novas amplitudes conceptuais ou formais, promovendo a inclusão e estabelecendo paradigmas culturais inéditos, nesses territórios. Além de constituir uma plataforma para o enriquecimento identitário individual e coletivo, esta mobilização estabelece um espaço dialógico independentemente da origem da obra.

Por fim, a partilha global torna-se uma premissa essencial á perpetuação e valorização da produção artística. Ao abraçar a diversidade como fundamento da sua prática cultural, o país configura-se como um território onde a arte se afirma não apenas como um reflexo da identidade local, mas também como um contributo essencial para o enriquecimento do património artístico além fronteiras; utopias à parte.

Duarte Dusan Santos