Estará a Madeira atrasada na substituição do peso da energia térmica pelas renováveis?
"2024 foi um ano recorde para as energias renováveis". Assim escreve a Comissão Europeia numa mensagem no grupo de WhastApp criado para difundir as novidades e sobre o que se passa na União Europeia. O texto acrescenta: "A geração renovável atingiu 47% da matriz energética da UE, ajudando a reduzir os preços médios da electricidade no acumulado desde 2021." Estes números parecem ir de encontro ao objectivo traçado há alguns anos de atingirmos na Europa a neutralidade carbónica. Mas será que Portugal e a Madeira estão a seguir o mesmo rumo?
Comecemos por Portugal. "Recorde de 80,4% na produção de electricidade renovável", diz a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). "Em 2024, a produção de electricidade aumentou 3,3% face ao ano passado", sendo que "a produção de electricidade a partir de fontes renováveis cresceu também, em 10,8%, atingindo o recorde de 80,4% no acumulado do ano", frisa na sua página e no relatório divulgado no início do ano.
Mais recentemente, e com dados já de 1 de Janeiro a 31 de Março de 2025, a APREN salienta que "foram gerados 14.113 GWh (GigaWatts/hora) de electricidade em Portugal Continental, dos quais 81,8% tiveram origem renovável", ou seja superando já a média do ano passado. Aliás, no último mês de Março, essa fasquia ainda vai mais longe: "Em Março de 2025 a incorporação renovável na geração de electricidade foi de 84,2%. Por sua vez, os centros electroprodutores térmicos fósseis representaram 9,0%."
E na Madeira? Para sermos mais justos, e nas regiões autónomas? Será que estamos assim tão adiantados ou atrasados? A Europa, no seu todo, já atingiu quase metade. Portugal continental já supera 80% de energia renovável para introduzir no sistema eléctrico.
Vejamos primeiro os Açores: "No ano de 2024, foram gerados 792 GWh de electricidade na Região Autónoma dos Açores, dos quais 34,0% tiveram origem renovável." Aliás, em termos de geração de energia por meio de energia térmica (fóssil), representou quase 66,0%, sendo que 58,6% foi de fuel e 7,4% de gasóleo. Das energias renováveis, sem surpresa os açorianos tiram proveito da energia dos vulcões activos e 20,5% da produção total de energia é proveniente da Geotérmica, assumindo forte preponderância sobre as restantes (Eólica, 7,6%; Hídrica, 3,7%; Resíduos Sólidos Urbanos, 1,7%; e Solar, 0,5%).
Por fim, a Madeira: "No ano de 2024, foram gerados 918 GWh de electricidade na Região Autónoma da Madeira, dos quais 33,7 % tiveram origem renovável." Mas, conforme demos conta em finais de Fevereiro, quando a DREM divulgou os dados fornecidos pela Empresa de Electricidade da Madeira, "em 2024, a produção de energia eléctrica, estimada a partir dos dados de emissão de energia eléctrica (...) aumentou 2,0% face ao ano anterior. Analisando o mix de produção da energia eléctrica emitida em 2024 - cujo total rondou os 953,4 Gigawatt hora (Gwh) - observa-se que, comparativamente a 2023, assistiu-se a uma maior preponderância das fontes eólica (+39,3%), resíduos sólidos urbanos (+8,6%), hídrica (+4,3%) e fotovoltaica (+2,4%), em detrimento da fonte térmica (-5,1%)".
Apesar dos números da APREN divergirem ligeiramente, o que é explicado pelo facto de os valores da emissão de energia serem diferentes dos da produção por não incluírem o apuramento dos autoconsumos e o consumo do sector electroprodutor, fica-se com uma ideia que apesar de estarmos longe dos valores europeus, mas sobretudo do continente português, "a fatia da energia total emitida com recurso a fonte térmica diminuiu, tendo passado de 72,1% em 2023 para 67,1% em 2024, o que significa que, pela mesma ordem, a quota de renováveis passou de 27,9% para 32,9%, percentagem mais elevada desde o início da série disponível (2009)".
Ou seja, estamos a produzir mais energia renovável - muito por força do reforço do investimento público na energia hídrica alguma privada na eólica e solar -, mas continuamos bem longe das metas previstas. Ainda vamos a tempo de acertar o passo, sobretudo a nível da média europeia. A média de Portugal continental, mesmo incluindo os dados modestos das duas regiões autónomas, estarão muito acima das possibilidades a médio prazo.
Para termos uma ideia da dimensão (e volatilidade) do desafio, apenas por uma vez a quota de energia renovável ultrapassou, na Madeira, a de energia térmica. Foi em Março de 2024, em que as renováveis contribuíram com 51,1% do total. Noutro mês, esteve perto da metade (49,2%), mas precisamente em Março de 2022, percentagens que no contexto do ano acabam por resultar em peso muito inferior. Isto porque os meses de Verão, sobretudo, têm um histórico mais baixo de produção de energias renováveis.
Governos de Albuquerque investiram 200 milhões em energias renováveis
O presidente do Governo Regional visitou, hoje, a Central Hidroelectrica da Calheta, onde foram feitas obras em equipamentos no valor de 4,7 milhões de euros.
Tendo em conta que já há dados disponíveis para 2025, mais precisamente em Janeiro e Fevereiro, fomos ver como se comportaram os diferentes tipos de energias. As duas imagens anexas respondem.
Resta saber que valores nos trarão Março de 2025, sendo certo que o histórico é bastante prometedor. Contudo, há que responder à pergunta deste fact-check. Estará a Madeira atrasada na substituição do peso da energia térmica pelas renováveis? Os números não mentem. Portanto, sim a Madeira terá de continuar a aumentar o investimento e a procura de aumentar a produção de energia renovável, caso contrário poderá não atingir a meta da European Green Deal: Redução das emissões de CO2 em 55% até 2030 e Net-zero até 2050.