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Regionais 2025 Madeira

“Ideia de mudança pode escaldar, mas não queima”

Miguel Silva Gouveia mede a temperatura desta campanha para as ‘Regionais’

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O socialista Miguel Silva Gouveia é hoje o convidado do ‘Barómetro’ que passa a ser diário, no qual defende que “a campanha arranca num ambiente de incerteza, marcado pela falta de entusiasmo dos eleitores e pela repetição dos mesmos protagonistas políticos”.

“São já as terceiras eleições regionais em apenas 18 meses, com dois ciclos governativos interrompidos antes do tempo, agravando a instabilidade política. A este contexto junta-se a crescente incerteza internacional, com impacto inevitável na União Europeia, de cujo financiamento a Madeira depende fortemente. Em Portugal, a iminente queda do governo da AD, que joga o futuro do país num ‘all in’ de tacticismo político, indicia eleições antecipadas e aumenta ainda mais a incerteza. Omnipresente, cá e lá, estão os fantasmas da corrupção, dos favorecimentos e dos conflitos de interesses que continuam a corroer a confiança nas instituições e a destruir a credibilidade dos agentes políticos. Paralelamente, as dificuldades crescentes sentidas pelos madeirenses quem vivem do seu próprio trabalho expõem um modelo de governação esgotado, conduzido há quase meio século pelo mesmo partido”, escreve na introdução que dá contexto à medição da temperatura.

Sente-se no ar um claro sentimento de fim de ciclo na Madeira. A ideia de que este poderá ser o momento da alternância democrática, que ainda não existiu na RAM, ganha força e é cada vez mais partilhada. Após décadas de um mesmo modelo de governação, com um partido hegemónico que instalou uma teia de dependências do poder em toda a sociedade, cresce a percepção de que a região precisa de mudar. Sente-se uma vontade colectiva de dar oportunidade a uma frente autonómica que traga novas ideias, com protagonistas credíveis e de reconhecida competência. Este sentimento fervilha na administração pública regional e atravessa diferentes sectores da sociedade, contagiando também os partidos. Após 50 anos, a ideia de mudança pode escaldar, mas não queima.

As entrevistas e debates com os candidatos têm aquecido o ambiente político, expondo perfis distintos. Sendo a maioria já conhecida dos madeirenses, estas aparições têm revelado a impreparação e o populismo de alguns, a maturidade e assertividade de outros e ainda a soberba e radicalismo de aqueloutros. Com os candidatos a sair do conforto da lastimável guerra de cartazes, as suas propostas vão sendo postas à prova e as fragilidades expostas. Para já, destacam-se propostas da actual oposição que geram consenso na habitação, no desagravamento fiscal e no investimento na saúde, bem como ideias arrojadas para a mobilidade como o metro e a valorização dos trabalhadores da administração pública. Faltaram uns frente-a-frente para tirar algumas teimas.

O baixo esclarecimento promovido por alguns partidos que se apresentam a eleições, revela uma preocupante tendência para privilegiar o ‘soundbite’ vazio, vender ilusões e disseminar a infantilização do discurso político. Em vez de apresentarem propostas sérias e fundamentadas, alguns agentes políticos preferem adoptar a postura de estrelas das redes sociais, apostando mais na imagem do que na substância. Acresça-se o manancial de promessas descabidas, sem exequibilidade técnica ou económica, propositadas para seduzir os menos atentos. Na política, como na vida, somos responsáveis pelas expectativas que criamos, e prometer aquilo que não sabemos se podemos cumprir é o caminho mais curto para a desilusão.

No congelador está a falta de memória de PSD e CDS. Apesar de governarem em conjunto desde 2019, tentam aproveitar o esquecimento do eleitorado para voltar a vender as soluções que nunca conseguiram implementar para problemas que só se agravaram. A falta de habitação a preços dignos, o caos na mobilidade interna e externa, o acesso à saúde, a perda de poder de compra e a fuga de jovens qualificados persistem. Soma-se a perda de competitividade do tecido empresarial, a incerteza nos apoios económicos, o abandono do património natural e edificado, a ausência de regulamentação no turismo, a inoperacionalidade do aeroporto e uma carga fiscal superior à dos Açores. E, acima de tudo, uma gritante ausência de estratégia para a Madeira. As promessas repetidas já não convencem e devem ser lembradas.