“A gente vai continuar”
Às vezes, o melhor a fazer perante algumas situações que nos acontecem é mesmo pensar que nada é para sempre e que a vida é tão engraçada que de repente tudo muda e tudo fica diferente. Acredito piamente que não há verdades absolutas. Que o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira. Que o que hoje é felicidade amanhã pode ser infelicidade. O contrário também pode acontecer.
Ultimamente são tantos os acontecimentos, internos e externos, que me têm feito refletir se vale a pena tanta luta, para tentar explicar o que a maioria das pessoas não quer ouvir, não quer saber. As pessoas já fizeram o seu juízo de valor e por isso tudo o que possa ser dito cai em saco roto. É vê-los a dar opinião que votaram na estabilidade sem sequer saberem o que isso representa realmente, a não ser que é para o PSD governar mais 4 anos.
Um dia numa entrevista a um matutino desta terra tive a ousadia de dizer que “o povo era ingrato” quando afasta do Parlamento as pessoas mais capazes de o defender. Hoje digo e reafirmo a mesma coisa, correndo o risco de ler os comentários mais horríveis, como é de costume. Quando falo do Povo falo dos que mais sofrem, dos pobres, dos sem casa, dos sem salários decentes, dos que não conseguem viver uma velhice com dignidade. Porque todos os outros estão bem representados e não ficaram de braços cruzados e elegeram quem os vai defender.
Como é que acreditaram que quem tem governado esta terra há quase 50 anos nunca os defendeu e agora é que iam ser os seus defensores? Acreditaram em pessoas que não conhecem de lado nenhum para serem seus governantes. Veja-se a composição do novo governo para perguntar, tirando algumas honrosas exceções, quem são as pessoas que nos vão governar durante os próximos 4 anos? O que fizeram pela causa pública? O que fizeram na defesa da democracia e da Autonomia? Por onde andaram até aqui chegar? Era engraçado exigir um curriculum a cada uma delas, não para saber a idade, os cursos e os hobbies, mas sobretudo para saber o que fizeram na vida antes de aqui chegar. Qual o merecimento que têm para trabalhar em cada pasta. Se percebem realmente bem o que significa governar uma Região tão desigual, que ora tem os prémios mais honrosos e na hora seguinte sai nas estatísticas como a mais pobre e com um índice de crimes graves como a violência doméstica.
Amanhã comemora-se 50 anos de Autonomia. Eu gostaria tanto de poder dizer que a Autonomia foi o que de melhor nos aconteceu. Mas são tantas as contradições que ela tem que comemorar o feriado não basta. É preciso muito mais para que todo o povo, sem exceção, goze os benefícios da autonomia com maior solidariedade na nossa insularidade, com leis mais justas, mais transparência na vida pública, mais respeito por quem não pensa igual, maior participação nas decisões do poder, mais apoio a todas as entidades que todos os dias trabalham para que a Madeira e os seus habitantes sejam melhores e tenham uma vida com mais dignidade e justiça.
Continua a não ser fácil remar contra a maré nesta terra. Continua a não ser fácil viver sempre fora da caixa. Mas aos que continuam sem medo, sem baixar os braços e confiantes que um dia, não se sabe quando, algumas coisas vão mudar, a minha mais firme solidariedade. Abril é um mês que está no meu coração, assim como no de todos que, mesmo tristes neste momento, vão continuar a andar por aí, até porque como diz Jorge Palma, “A gente vai continuar”.