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Ainda é cedo para ser tarde demais

Domingo, dia 23, somos chamados a escolher, através do voto, a composição da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, com profundos e determinantes reflexos na constituição do XVI Governo Regional da Madeira.

Acredito ser importante escolher líderes que pensem num tempo político para lá do tempo eleitoral ou do tempo pessoal. Claro que todos os governantes e demais intervenientes na cena política estão espartilhados pela temporalidade. Mas a visão de futuro tem de ganhar à visão do presente, sobretudo de um presente imediato que não constrói nem reforça os alicerces da sociedade mais justa, solidária e sustentável que todos almejamos.

Embora a política se faça de pragmáticos, também temos de criar condições para que os visionários possam dar o seu contributo, para que se possa sair da espuma dos dias e apostar em cenários de futuro que permitam sonhos de prosperidade de braço dado com equidade e solidariedade.

A proteção do bem comum tem de ser o principal foco de quem quiser ter um projeto sério para a Região e para o nosso povo, com especial atenção aos temas mais preocupantes no momento presente, habitação, poder de compra e qualidade de vida.

Olhar pelas nossas gentes, compreender as suas vulnerabilidades e desafios, deverá ser a pedra angular do pensamento político, pois, caso as pessoas não estejam no centro da ação e da decisão, estaremos claramente a hipotecar o futuro.

No atual léxico político, começou-se a repetir certas expressões para catalogar alguns atores políticos, tais como “ativo tóxico”, “cadáver político” ou “bomba-relógio”. Termos pesados, que demonstram como a política se tornou um palco onde proliferam os beligerantes e não os dialogantes. Por isso, por ser tão dura e acutilante a atual arena política, cada vez mais o escrutínio será maior, com necessárias provas de ética, seriedade e honestidade. Não podem subsistir dúvidas que quem lidera, ou quer liderar, tem de o fazer pelo exemplo, não pode ficar preso por caprichos, teimosias, egoísmos ou delírios. Contudo, independentemente de ser fundamental conhecer o perfil de quem pretende nos representar ou governar, há, no entanto, que ter cuidado com os linchamentos públicos e com o tribunal da opinião pública.

No período de reflexão que temos até depositar o nosso voto, ainda vamos a tempo de analisar quem melhor apresenta propostas exequíveis, que tenham no seu cerne incrementar as potencialidades da nossa Região, e que também nos protejam face aos nossos pontos fracos e às ameaças em termos económicos, sociais e ambientais.

Não partilho da mesma filosofia política e de governação de Javier Milei, Presidente da Argentina, no entanto, gostei de uma sua frase recente: “Não estou aqui para guiar ovelhas, mas para acordar leões”, uma frase forte que adapto ao meu gosto, no sentido de expressar uma máxima que devemos seguir, com cada um a revelar o seu melhor, com independência de pensamento e lutando com garra por um mundo melhor.

Numa Região em que o conformismo ainda é regra, nunca é tarde demais para acreditar que, num futuro não muito distante, será possível erguer-se a voz dos que desafiam o status quo, dos que questionam e pensam diferente. Há de surgir um tempo novo em que não se silencie ou desacredite quem pensa pela sua cabeça, em que se entenda que pensar diferente é uma mais-valia, um enriquecimento do debate político, quer a nível interno quer com os demais interlocutores da vida política. E uma das formas de aglutinar novas ideias é dar cada vez mais espaço político à sociedade civil, desenvolvendo um ambiente que promova a consciência crítica dos cidadãos.

Domingo próximo, temos de ter o discernimento de escolher o que queremos que seja o nosso futuro imediato, sem esquecer o que desejamos para as gerações futuras de madeirenses e porto-santenses. Não se consegue prever o futuro, ninguém tem uma bola de cristal nem dotes de vidente, mas podemos e devemos lançar as sementes de um amanhã melhor.

Caro (e)leitor, não deixe que ninguém decida por si. Faça ouvir a sua voz! O voto é a sua voz.