Eu Voto! O apelo de Marina Freitas Kratt
Escritora recorda que "todos temos uma caneta e qualquer um sabe fazer uma cruz numa folha de papel A4"
Ter testemunhado as manifestações nas ruas na Venezuela nos últimos tempos, ou ter visto nos telejornais como nalguns países se arrisca a vida para reclamar votos roubados por Governos que se servem da Ditadura para se perpetuarem no Poder, deveria ser suficiente para lembrar que quando os madeirenses são chamados às urnas há que ir. Ficar em casa não é, nem deve ser alternativa.
A Política deveria ser a mais nobre das Artes. Trabalhar para a Polis era, no princípio, a missão dos Homens Bons.
Deveria ter sido sempre assim. Infelizmente têm sido muitos os motivos por que tanta gente se afastou dos caminhos da política, porque tantos madeirenses se dizem desencantados, frustrados e até zangados.
A par com este desencanto, cresceu muito nos últimos anos a perceção de que a corrupção grassa neste arquipélago.
Os casos pendentes na Justiça e os processos no Ministério não foram infelizmente inventados por má-fé e mesmo que motivados por denúncias anónimas deixaram cicatrizes no nosso tecido social.
O velho ditado de que não há fumo sem fogo está ainda faz eco e a desconfiança ganha raízes na mente da nossa gente.
Mas também temos consciência de que a ideia de que todos os políticos são corruptos é exagerada e até injusta.
Esta situação é sobejamente usada pelos populistas, que se alimentam destas crises para crescer como cogumelos venenosos em terreno fértil. Acho que já muitos perceberam e ainda bem, que votar por protesto não é solução. E o voto em branco não é cartão vermelho. A abstenção é um gigante gordo, que cresce se não formos todos às urnas quando chamados a cumprir esse dever cívico.
Aos eleitores informados e responsáveis resta apenas aguardar que os Homens da Justiça façam o seu trabalho. Seja qual for o resultado. É assim que uma Democracia funciona. E ninguém tenha dúvidas de que este é o maior bem conquistado pelas sociedades modernas.
Precipitar o caos não traz desenvolvimento, nem estabilidade.
Mas, cabe mais do que nunca aos políticos respeitar a diferença e o pluralismo, promover o debate justo e moderado e construir pontes entre todas as forças democráticas. Sobretudo cumprir com as promessas que se fazem ao povo no calor dos comícios eleitorais.
Somos de novo chamados a Eleições na Madeira e depois de uma aparatosa queda do Governo em Lisboa, teremos mais eleições em Maio. E tudo isto acontece quando menos deveria acontecer. Com uma Europa a braços com o drama de uma guerra, que se pode alastrar a outros países, sem armas para combater o monstro russo e uma América a descuidar os aliados europeus.
Neste cantinho do céu, como lhe chamamos, não estamos imunes às consequências de um agravamento da situação internacional.
O Turismo que tem apresentado dados cada vez mais promissores, embora já se fale na necessidade de pensar na sustentabilidade do destino Madeira, seria o primeiro sector da nossa economia a ressentir-se.
Se analisarmos bem, por mais que nos falem de teorias de conspiração, e se esgrimem motivos históricos, causas remotas e recentes para tudo o que se está a passar no mundo, a verdade é que o que está em causa é afinal a Democracia. O direito ao voto.
É o eleitorado quem detém a soberania. E ele é a base legítima de qualquer Governo justamente eleito.
Infelizmente o nosso mundo tal como o conhecíamos já não é o mesmo, a Ordem Internacional corre perigo e cada país deve cumprir a sua parte e tentar manter-se á tona, para que a Europa não vá ao fundo.
Podemos estar fartos de todos estes cenários, que se desenvolvem diante dos nossos olhos sem que nada possamos fazer para protestar ou mudar o rumo dos acontecimentos. Mas, vivemos todos nesta aldeia global. Tudo está interligado e mais do que nunca os nossos valores devem ser defendidos e preservados.
Cabe a cada um de nós, á sua maneira e dentro dos seus poderes legítimos deve dar o seu contributo. De forma responsável.
Não fique a protestar se nada fizer para tentar mudar aquilo com que não concorda. Uma coisa é certa. Todos temos uma caneta e qualquer um sabe fazer uma cruz numa folha de papel A4.
Basta querer. Basta acreditar!