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Exigência e Escolha

São as pessoas que fazem as instituições, mas estas devem existir sempre para além daqueles que as representam em cada momento. Impera aqui uma lógica genuína de serviço e de missão, numa representatividade que será tanto maior e mais efetiva quanto mais ampla for a crença ou a confiança dos representados. E quase tudo é construção humana. Não somos todos iguais e sabemos que o ser humano não é perfeito. Devemos, assim, aceitar naturalmente a imperfeição das instituições humanas, não numa perspetiva de resignação ou de desânimo, mas sim de consciência de que, só assim, podemos dar um contributo importante para as tornar mais perfeitas. Sabemos que nem todas as imperfeições têm a mesma origem, a mesma razão, a mesma motivação e o mesmo grau. É preciso perceber as imperfeições, a sua dimensão, o seu impacto e as suas consequências. Sem receio. É curioso que muitos daqueles que mais engrandeceram algumas instituições também as feriram. E são amados. É uma espécie de balanço sentimental no qual o bem prevalece. Prevalece o respeito pelo carisma e pelo carácter, pela luta e pelas conquistas, para além do pecado ou de qualquer erro, precisamente porque, no momento final, toleramos algumas imperfeições.

A verdade é que não nos podemos desinteressar da razão e da perfeição. Temos sempre a obrigação de tentar perceber tudo o que acontece à nossa volta. Devemos ser críticos e construtivos, empenhados e ativos, envolvidos e determinados, fortes e destemidos, responsáveis e assertivos, ambiciosos e crentes, verdadeiros e leais. A consciência da imperfeição humana nunca pode diminuir os nossos níveis de exigência. Temos a obrigação de querer mais e melhor, de lançar, sempre, em cada momento, uma reflexão séria sobre as instituições, desde a sua génese, passando pela sua essência e composição, até ao seu funcionamento e impacto, assumindo sempre esse plano fundamental, quase utópico, dos princípios, da ética e dos valores fundamentais, com a consciência de que as instituições têm mecanismos que as podem sempre fazer renascer, independentemente de qualquer tentativa de controlo egoísta.

Tudo é construção e reconstrução, rejuvenescimento e renascimento. Vivemos tempos sensíveis que exigem muito de nós para evitar a galopante crise de valores e degradação das instituições. Não podemos permitir que a política se transforme em mero entretenimento. É a vida das pessoas. O tempo é de exigência nas escolhas. Temos de estar muito atentos e muito envolvidos neste processo, conscientes de que o fazemos para um determinado lapso temporal e de que, em democracia, o processo se renovará sempre.

É sempre o povo quem mais ordena. É, por isso, que não me parece sensato transformar um órgão político, representativo do povo, numa entidade que julga e pune os seus pares, numa espécie de escolha das escolhas que a distancia desse povo. Saúdo, pois, a posição do Presidente da Assembleia da República que não cedeu perante a “exigência” populista de sanções a deputados. Deixem o povo “julgar” depois. Não podemos deixar de confiar no povo informado. Não é o arranjo da soma das minorias que deve julgar ou governar. O julgamento é para instituições com outra independência. E confiemos na Justiça. Não posso deixar de manifestar aqui a minha preocupação perante a realidade atual na qual parece existir maior censura pública perante um suspeito do que perante um condenado.

Temos de nos afastar do populismo saloio e da desinformação tóxica. Temos de nos afastar da hipocrisia da esquerda dos pseudodireitos que discrimina trabalhadoras grávidas. Dessa esquerda radical que destrói Portugal. A degradação das instituições está relacionada com a impreparação, com a falta de responsabilidade, com a fúria e com os traumas e frustrações de partidos extremistas radicais, sejam de esquerda, sejam de direita, bem como de partidos que concentram toda a sua atividade na angariação de descontentamentos, verdadeiras forças negativas de promessas fáceis. Os mais preparados não são os que mais prometem, os que mais proclamam, os que mais abraçam, os que mais beijam, os que mais choram ou os que leem na igreja. Os mais preparados são, por vezes, impopulares e pensam para além do imediato.

O tempo exige responsabilidade. O tempo é de reequilíbrio. O momento é de escolha. É o momento de rejeitar partidos ou movimentos populistas com discursos demagogos e pseudoutilitaristas que têm sido responsáveis pela degradação das instituições, da democracia e do estado de direito. Se não pararmos já com essa avalanche populista corremos o sério risco de perdermos as nossas mais importantes conquistas. Não nos podemos desviar do plano dos princípios fundamentais e da busca da perfeição. Há sempre exigência e uma escolha com todos os riscos que pode comportar. O importante agora é que possamos definir as nossas opções políticas apenas em função da política e do impacto que a escolha terá nas nossas vidas, evitando coligações negativas e bloqueios de minorias sem preparação e sem sentido de responsabilidade. É, acima de tudo, importante que se assegure estabilidade de governação para quatro anos.