Mais Saúde no Sapatinho de Natal
O Natal é, por excelência, um tempo de reflexão, de cuidado e de atenção ao outro. É o momento em que se fala de família, de solidariedade e de esperança no futuro. Por isso, esta época convida também a pensar na forma como cuidamos da nossa comunidade e nas escolhas que fazemos enquanto Região.
Um Orçamento Regional não é apenas um conjunto de números, é o retrato das prioridades políticas. É o maior instrumento de políticas públicas que o Governo tem à sua disposição para responder às necessidades dos madeirenses e porto-santenses. No entanto, ao analisar o orçamento recentemente aprovado pela maioria PSD/CDS para 2026, percebe-se a distância entre a Madeira dos discursos e a Madeira que muitas pessoas vivem no dia-a-dia.
As receitas da Região e os saldos orçamentais são apresentados como motivo de orgulho, com excedentes. Mas muitos madeirenses não sentem a diferença. Para muitas famílias, o salário continua a não chegar, uma habitação continua fora do alcance e o acesso à saúde mantém-se marcado por longas esperas, incertezas e adiantamentos no privado que demoram a ser reembolsados.
Na área da saúde, as opções orçamentais traduzem-se em menos meios para responder às necessidades da população. Cortes significativos no financiamento do serviço público resultam em listas de espera mais longas, dificuldades no acesso a consultas e cirurgias e numa pressão constante sobre os profissionais de saúde, que asseguram o funcionamento do sistema à custa do seu esforço pessoal, com horas extraordinárias frequentes e valorização profissional insuficiente. Quando os tempos máximos de resposta falham e os indicadores de saúde preocupam, estamos a falar de menos saúde para os madeirenses, que vivem em média dois anos menos do que no continente.
O SESARAM terá, em 2026, menos 50 milhões de euros do que os efetivamente disponíveis em 2025 (apesar do malabarismo contabilístico usado para tentar disfarçar a realidade). Quando a tesouraria é frágil, o desfecho é previsível, atrasos nos reembolsos aos utentes e nos pagamentos aos fornecedores, pressão acrescida sobre equipas já no limite e listas de espera que se prolongam. Isto não é eficiência, é levar o serviço regional de saúde ao limite, desprotegendo quem espera e desgastando quem cuida.
Importa, no entanto, reconhecer que, se o sistema continua a funcionar, é graças aos profissionais que fazem verdadeiros milagres com recursos limitados. O problema é estrutural, no planeamento e execução. O Tribunal de Contas tem alertado para fragilidades e para a falta de uma visão plurianual, e isso sente-se nas urgências que enchem e nos projetos que ficam por concretizar, transitando de ano para ano.
O mais difícil de aceitar é que estes cortes ocorram num contexto de excedentes orçamentais, e quando continuam a ser financiados investimentos que pouco impactam a vida quotidiana da maioria dos cidadãos. Governar é escolher, e escolher implica definir prioridades. As deste Governo, para 2026, estão claramente invertidas.
Neste tempo de festividades e reflexão para o ano novo, quando se fala de cuidado e responsabilidade colectiva, vale a pena recordar que a política só cumpre o seu propósito quando coloca as pessoas no centro. Uma Região forte não se mede apenas pelos números económicos, mas pela forma como protege, cuida e dá futuro a quem nela vive.
Feliz Natal!!