Catarina Martins e Jorge Pinto afastaram-se sobre UE mas uniram-se contra voto útil
Os candidatos presidenciais Catarina Martins e Jorge Pinto expressaram hoje divergências sobre a participação de Portugal no projeto europeu, mas uniram-se na recusa de uma desistência a favor do socialista António José Seguro.
No frente-a-frente televisivo emitido na RTP, o penúltimo dos 28 para as eleições presidenciais marcadas para 18 de janeiro, a antiga líder do BE e atual eurodeputada fez questão de enaltecer a sua experiência política e capacidade de "criar pontes". "Acho que num momento em que na política há tantos bloqueios, a minha experiência pode ajudar", argumentou.
Interrogada sobre se pretendia distanciar-se de Jorge Pinto -- candidato mais novo na corrida a Belém -- Catarina Martins negou, dizendo apenas que os dois têm "percursos diferentes".
Jorge Pinto, apoiado pelo Livre, admitiu "pontos de convergência" com a adversária, mas apontou para uma "divergência clara no que diz respeito ao papel de Portugal nas instituições europeias". "Eu sou um europeísta crítico, mas convicto", disse, acusando Catarina Martins de ter subscrito uma moção no BE na qual considerava que o projeto europeu estava "condenado".
A eurodeputada respondeu que "o projeto europeu vai sendo desenhado com vozes divergentes" e que "a unidade europeia não existe, ou seja, não é uma coisa garantida, é uma disputa política, como todas, e democrática". "E eu acredito que Portugal deve participar dessa construção, ou seja, nós não somos espetadores da União Europeia, somos construtores", argumentou.
A bloquista reconheceu que "houve uma altura em que a União Europeia se preparava para aplicar sanções a Portugal por causa do BANIF" e "havia um governo que queria aumentar o salário mínimo nacional e, nesses momentos, é preciso defender Portugal".
Jorge Pinto contra-atacou, afirmando que a adversária propôs "um referendo quanto à pertença portuguesa na União Europeia" após o Brexit e recusou desistir do projeto europeu, considerando que a esquerda não pode "abdicar de entrar nesse jogo de forças".
O deputado do Livre insistiu ainda na necessidade de criar uma "comunidade europeia de Defesa", para garantir uma maior interoperabilidade entre países, ideia com a qual Catarina Martins concordou, mas alargando a cooperação a nações fora da União Europeia, como a Noruega e o Reino Unido.
Confrontados com uma eventual desistência a favor de António José Seguro, apoiado pelo PS, os dois candidatos afastaram esse cenário, com o deputado do Livre a avisar que "é perigoso colocar os ovos todos no mesmo cesto" e que o próximo Presidente "vai ser o bombeiro do sistema".
Catarina Martins disse ver "uma proximidade clara de Seguro a Marques Mendes", apoiado por PSD e CDS-PP, e considerou que "em Portugal há muitas vezes o discurso de que escolhermos o mal menor trava o mal maior". "E a escolha do mal menor só tem feito com que o mal maior cresça", advertiu.
Em resposta ao histórico socialista Manuel Alegre, que esta semana considerou que os partidos à esquerda "entretêm-se a defender as suas quintinhas" e apelou ao voto em Seguro, Jorge Pinto discordou e lembrou quando o socialista se candidatou nas presidenciais de 2006 contra Mário Soares e foi acusado de "estar a dividir o PS".
Já sobre qual seria o seu perfil de intervenção, Catarina Martins distanciou-se do atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de ter tido uma "intervenção no jogo partidário" ao transformar "os orçamentos em moções de censura" e defendeu que ser interventivo é "ouvir as populações e lançar debates".
Já Jorge Pinto disse não querer ter apenas uma "magistratura de influência", mas "de intervenção", lançando estados gerais, assembleias cidadãs e, dirigindo-se a Catarina Martins, considerou que a regionalização foi o "maior falhanço da geringonça" (acordo que permitiu ao PS governar com o apoio parlamentar de BE, PCP e PEV).
A bloquista, que se manifestou a favor da regionalização, defendeu que existe "um nó constitucional" sobre o tema no que toca ao referendo, com Jorge Pinto a rejeitar que seja necessária uma revisão constitucional para avançar com o processo.