Seis organizações exigem a Portugal que condene "ameaças e agressões" dos EUA à Venezuela
Seis organizações, incluindo a central sindical CGTP, exigiram hoje numa carta aberta dirigida ao primeiro-ministro que o Governo condene as "ameaças e agressões" da administração norte-americana de Donald Trump contra a Venezuela e outros países das Caraíbas.
"O Governo deve tomar uma posição de condenação destas ameaças e agressões abertas que estão a ser feitas pelos Estados Unidos da América, em violação do Direito Internacional", disse à Lusa Isabel Camarinha, em representação do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), um dos movimentos que subscreve a carta aberta.
Para as organizações, o Governo de Luís Montenegro "deve condenar essa postura dos Estados Unidos, defendendo os interesses também do povo português, nomeadamente da comunidade portuguesa que vive na Venezuela, que é muitíssimo numerosa".
Portugal deve também fazer pressão junto da União Europeia para que se pronuncie, defendeu.
Representantes dos signatários pediram uma audiência ao primeiro-ministro -- que está hoje no Conselho Europeu, em Bruxelas -, e entregaram esta manhã a carta aberta na residência oficial de São Bento.
Na carta, as organizações transmitem "seríssimas preocupações" perante o "desrespeito dos princípios do Direito Internacional, consagrados na Carta das Nações Unidas, que reconhecem a soberania e os direitos dos povos, incluindo à paz, ao desenvolvimento e a disporem dos seus recursos", indicou a representante.
"A intensificação do bloqueio contra Cuba, as medidas coercivas contra a Nicarágua ou as pressões e as medidas económicas e políticas contra o Brasil, o México e outros Estados, revelam as intenções dos EUA de imporem o seu domínio sobre esta região", referem as organizações, no documento.
Isabel Camarinha comentou ainda notícias que davam conta que o Presidente Donald Trump iria declarar guerra à Venezuela na quarta-feira e que os membros do Congresso dos EUA já teriam sido informados disso.
"Só torna a situação ainda mais grave", considerou, sublinhando que as Nações Unidas devem também "tomar uma posição".
A responsável recordou que os EUA "já assassinaram um conjunto grande de pessoas" -- quase 100 -- nos ataques a barcos alegadamente envolvidos no tráfico de droga.
"Esta questão do narcotráfico é apenas um pretexto que os Estados Unidos estão a utilizar para tentar tomar posse das riquezas naturais que a Venezuela, nomeadamente o petróleo", considerou.
Na semana passada, o Comando Sul norte-americano, que atacou mais de três dezenas de embarcações e executou 95 tripulantes alegadamente ligados ao narcotráfico nas Caraíbas e no Pacífico Leste, apreendeu em águas internacionais o petroleiro "Skipper", que transportava crude venezuelano.
As organizações denunciam esta apreensão como "completamente inadmissível, à luz do Direito comercial internacional".
Os Estados Unidos também reforçaram a presença militar no mar das Caraíbas desde agosto, sob o argumento da luta contra o narcotráfico, enviando para a região em outubro o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, com cerca de 5.000 militares a bordo e 75 aviões de combate, incluindo caças F-18, com uma escolta de cinco contratorpedeiros.
No final de outubro, o número de soldados norte-americanos no sul das Caraíbas e na base militar dos Estados Unidos em Porto Rico ascendia a 10.000, metade dos quais a bordo de oito navios.
Na terça-feira, o Presidente Trump ordenou um bloqueio total à entrada e saída da Venezuela de navios petrolíferos sancionados pelo Governo norte-americano.
A carta aberta é subscrita pela Associação de Amizade Portugal-Cuba, Associação Portuguesa de Juristas Democratas, CGTP - Intersindical Nacional, Conselho Português para a Paz e Cooperação, Movimento Democrático de Mulheres e Projeto Ruído - Associação Juvenil.