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Partidos e ONG contra alegado fabrico de moedas israelitas pela Casa da Moeda

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Foto Imprensa Nacional-Casa da Moeda

Várias organizações da sociedade civil e partidos políticos condenaram hoje o alegado fabrico pela Casa da Moeda de dois milhões de moedas israelitas, criticando que Portugal continue a ser "cúmplice de Israel".

As acusações, a que o Governo português, contactado pela agência Lusa, ainda não respondeu, partiram de funcionários da própria Imprensa Nacional -- Casa da Moeda, o que levou várias organizações não-governamentais a promover uma ação de protesto com cerca de seis dezenas de pessoas diante das instalações da empresa pública portuguesa, em Lisboa.

Em declarações à Lusa, vice-presidente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz do Médio Oriente (MPPM), Carlos Almeida, promotor do protesto em conjunto com o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), considerou a atuação do executivo de Luís Montenegro como "uma infâmia".

"Talvez o Governo português ache que depois da entrada em vigor do cessar-fogo, possamos continuar a relacionar-nos normalmente com o Estado de Israel, mas, peço desculpa, isso não é possível. O Estado de Israel é um Estado responsável por um genocídio, por uma limpeza étnica e por uma colonização que leva 77 anos", acusou.

Carlos Almeida alegou que "estará em Lisboa uma delegação israelita para tratar do negócio" e sublinhou que o Governo português tem de responder sobre se "está disposto a comprometer Portugal neste genocídio", sobretudo após resoluções da ONU e do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).

"[As resoluções] são bem claras. Qualquer relação com o Estado de Israel torna o país cúmplice e passível de ser incriminado no TIJ pela prática do crime de genocídio. A pergunta que temos que fazer é se o Governo português assume a responsabilidade de implicar Portugal na possibilidade de ser acusado do TIJ pela cumplicidade com o crime de genocídio", afirmou. 

A presidente da Direção Nacional do CPPC, Isabel Camarinha, acusou o Governo de compactuar com Israel, apesar de ter reconhecido a Palestina como um Estado.

"Agora que o Estado português deu esse passo, é ainda mais chocante que continue em cumplicidade com o governo de Israel, relações quase de amizade mesmo, em que está inserida a cunhagem de dois milhões de moedas na Casa da Moeda, que é uma empresa pública portuguesa que tem lucros de milhões. Nem sequer podíamos dizer que precisa deste negócio. E o Estado português está a compactuar com Israel, que mesmo com o cessar-fogo, continua a matar palestinianos", frisou Isabel Camarinha. 

"Não se compreende como é que o Governo português insiste, já que tinha sido o episódio da Base das Lajes e da passagem dos F-35. Há um navio com bandeira portuguesa que está a carregar munições para Israel. E agora temos esta situação, até a presença de uma delegação oficial representante do governo israelita", denunciou.

O comunista João Ferreira, presente na ação de protesto na qualidade de vereador da Câmara Municipal de Lisboa (CML), indicou que o Partido Comunista Português (PCP) enviou uma pergunta ao Governo português a pedir explicações sobre o alegado negócio israelita com a Casa da Moeda, que não obteve resposta.

"Há uma contradição que torna esta situação inadequada. O Estado português reconheceu tardiamente o Estado da Palestina. A partir desse momento são esperadas medidas consentâneas com uma exigência, em primeiro lugar, de que Israel pare de imediato o genocídio", afirmou João Ferreira.

"Esta relação comercial com o Estado de Israel, neste momento, e uma empresa pública portuguesa afigura-se de todo em todo inadequado e foi nesse sentido que o grupo parlamentar do PCP dirigiu uma pergunta" ao Governo, acrescentou.

O dirigente do Bloco de Esquerdas (BE) Jorge Costa, que participou no protesto, acusou o Governo português de cinismos: "Portugal finge que não vê que está a ser cometido um genocídio e torna-se dele cúmplice ao tratar o Estado de Israel como se fosse um parceiro normal das relações internacionais. Não é.", frisou. A ação de protesto decorreu ao fim da manhã com palavras de ordem como "Israel é culpado pelo povo massacrado", "Palestina vencerá" ou "Em cada cidade, em cada esquina, somos todos Palestina".