A crise actual
Vários países árabes, organizações internacionais e ONG’s, estão a pressionar por um cessar-fogo rápido e ajuda humanitária maciça
A crise do Médio Oriente atravessa um dos seus momentos mais perigosos e decisivos das últimas décadas. Há sinais de que a diplomacia pode estar a dar passos importantes, mas os obstáculos são elevados e o tempo para agir é curto.
As negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas estão em curso no Cairo, mediadas por Estados Unidos, Egipto e Qatar, com base num plano de paz proposto pelo presidente Donald Trump.
Apesar do progresso diplomático anunciado, há pontos de discórdia persistentes: até que ponto o Hamas está disposto a desarmar, quais as garantias para cessar-fogo, como será a retirada de forças israelenses, quem governaria Gaza depois — com que autonomia — e sob que supervisão externa.
Do lado humanitário, a situação permanece crítica. Gaza enfrenta deslocamentos maciços, grande parte da população vive em condições de insegurança extrema com acesso muito limitado a alimento, água, eletricidade, cuidados médicos básicos.
Há, também, uma expansão do conflito indirecto ou ‘proxy’: ataques de grupos aliados do Irão, sirenes activadas em várias partes de Israel, ataques a partir do Iémen (pelos Houthis), e preocupações de que uma escalada possa envolver ainda mais intervenientes regionais.
Se se conseguir chegar a um acordo de paz, quem vai governar Gaza após o conflito? Se fica um vazio de poder ou se uma autoridade transitória for imposta, isso poderá gerar instabilidade e oposição. A falta de um plano pós-guerra claro por parte de Israel, aumenta dramaticamente a incerteza sobre o futuro imediato da região.
O Hamas aceitar entregar as armas, ou partes delas, é um ponto-chave do plano. Mas isso esbarra em garantias de segurança, continuidade política, e exigências de parte israelita para acções concretas.
Vários países árabes, organizações internacionais e ONG’s, estão a pressionar por um cessar-fogo rápido e ajuda humanitária maciça. Ao mesmo tempo, potências externas (EUA, Egipto, Qatar, potenciais mediadores) procuram manter influência. Essa pressão pode acelerar decisões, mas também gerar tensões diplomáticas.
Qualquer incidente — ataque isolado, erro de avaliação, forças armadas enviadas ou operações aéreas — pode provocar respostas em cadeia. A fronteira com o Líbano, o envolvimento dos Houthis no Iémen, ações indirectas do Irão, são variáveis de risco alto.
A crise alimentar, deslocamentos, doenças, perda de infraestruturas críticas, traumatismos psicológicos aumentam a urgência de uma solução. Se nada for feito rapidamente, o custo será duradouro.
Com base no que se conhece até agora, algumas das hipóteses mais prováveis poderão ser: cessação temporária das hostilidades — um cessar-fogo, ou várias fases dele, nos próximos meses, sobretudo se o plano de paz for aceite parcialmente. Isso permitiria aliviar a pressão humanitária, iniciar a reconstrução de infraestruturas e libertar prisioneiros/reféns; pode surgir uma autoridade transitória, possivelmente tecnocrática, com supervisão ou participação internacional, para gerir Gaza no período pós-conflito enquanto se negociam soluções mais permanentes; desarmamento parcial ou gradativo do Hamas que não será simples nem imediato; mesmo com cessar-fogo em Gaza, haverá tensões em outras frentes — fronteira do Líbano, acções dos Houthis, envolvimentos indirectos do Irão — que poderão disparar confrontos localizados; a reconstrução será lenta, cara, dependente de ajuda externa e garantias de segurança.
A população civil continuará a sofrer, enquanto durar a instabilidade; internamente, nos territórios afectados, em Israel, entre os países árabes e fora da região haverá forte pressão política para encontrar uma saída viável, para proteger populações, evitar perdas eleitorais ou protestos.
Subjacente a tudo isto, está a vontade de Trump ganhar o Prémio Nobel da Paz…