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Explicador Madeira

A chuva não é toda igual. Do aguaceiro à precipitação extrema, conheça os critérios

A chuva forte que caiu entre o final da tarde e o princípio da noite da passada quarta-feira, 15 de Outubro, no Funchal, chegou a ser torrencial durante a meia hora de maior intensidade, conforme noticiou o DIÁRIO.

Choveu torrencialmente no Funchal

Em meia hora caíram 17 litros por metro quadrado

Mas o que faz de uma chuvada, uma chuva torrencial?

Antes de mais importa perceber qual é a diferença entre “precipitação”, “chuva” e “aguaceiro”.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) designa-se por "precipitação" todo o conjunto de partículas de água, quer no estado líquido, no estado sólido ou nos dois, que caem da atmosfera e que atingem a superfície do globo. A chuva, a neve e o granizo, são portanto diferentes formas de precipitação.

Todavia, nas previsões meteorológicas por vezes aparece a indicação de "chuva", outras de "aguaceiros" e outras até de "chuva ou aguaceiros".

A chuva é a precipitação de partículas de água no estado líquido, que caem sob a forma de gotas de diâmetro geralmente superior a 0,5 mm, com velocidade em geral superior a 3 m/s e em regra de forma bastante uniforme.

Já o aguaceiro – que é afinal um regime de chuva – é caracterizado por começar e terminar de forma brusca, frequentemente com variações rápidas de intensidade e pela alternância rápida do aspecto do céu.

Assim, de acordo com o IPMA, quando os meteorologistas estão a prever que a precipitação se estenda de forma uniforme numa determinada região e caia de forma regular e até contínua durante determinado período de tempo, então a previsão é de "chuva".

Quando se prevê que haja grande alternância, quer do ponto de vista espacial de local para local, quer do ponto de vista temporal para um mesmo local, entre o céu muito nublado ou encoberto com precipitação com períodos de céu pouco nublado ou mesmo limpo, então os meteorologistas utilizam o termo "aguaceiro".

Chuva Torrencial: Quando a água cai com força suficiente para mudar o dia

No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o adjectivo torrencial refere-se a algo “que cai com força e abundância” (por exemplo: chuvas torrenciais). Todavia, quando falamos em critérios meteorológicos, em Portugal, o termo “chuva torrencial” não é uma categoria oficial do IPMA, embora seja usado em linguagem meteorológica e científica para descrever precipitação de intensidade excepcionalmente elevada num curto espaço de tempo — normalmente associada a fenómenos convectivos intensos (como trovoadas, linhas de instabilidade ou células convectivas).

Na literatura técnica portuguesa, “chuva torrencial” é sinónimo de “precipitação intensa” ou “aguaceiro muito forte”, sendo identificada pelos valores de precipitação horária que correspondem aos níveis mais elevados de aviso meteorológico do IPMA.

Critérios de emissão dos avisos meteorológicos não são iguais

O IPMA emite aviso meteorológicos para situações de vento forte, precipitação forte, queda de neve, trovoada, frio, calor, nevoeiro persistente e agitação marítima.

  • O IPMA aplica estes mesmos limiares de precipitação (mm/h e mm/6h) ao continente, Madeira e Açores, mas a Proteção Civil da Madeira reforça as medidas devido ao relevo acentuado e ao regime orográfico intenso da ilha.
  • De acordo com o Serviço Regional de Protecção Civil, episódios classificados como “chuva torrencial” na Madeira são geralmente aqueles que ultrapassam 60 mm/h ou causam impactos imediatos em ribeiras e zonas urbanas (Funchal, Câmara de Lobos, Ponta do Sol, etc.).
  • Em boletins oficiais, esta designação é usada como sinónimo de precipitação extrema de curta duração associada a trovoadas convectivas ou linhas de instabilidade.

INTENSIDADE DA PRECIPITAÇÃO LÍQUIDA

A classificação da intensidade da precipitação líquida distingue-se entre chuva contínua e aguaceiros de chuva.

Para a chuva contínua, considera-se fraca quando os valores são inferiores a 0,5 mm por hora, moderada quando situam-se entre 0,5 e 4 mm por hora, e forte quando excedem 4 mm por hora.

No caso dos aguaceiros de chuva, a classificação é ligeiramente diferente devido à sua natureza mais intensa e localizada: são considerados fracos quando a precipitação é inferior a 2 mm por hora, moderados entre 2 e 10 mm por hora, fortes quando se situam entre 10 e 50 mm por hora, e violentos quando ultrapassam 50 mm por hora.

Esta distinção é crucial para avaliar o risco de cheias rápidas, aluimentos e outros efeitos da precipitação intensa.

EM RESUMO: CRITÉRIOS TÍPICOS PARA “CHUVA TORRENCIAL”

Para que uma chuva seja descrita como torrencial, é usual que pelo menos um destes critérios (ou algo similar) seja cumprido:

  • Altíssima intensidade de precipitação instantânea ou média sobre curtos períodos (ex: ≥ 50-60 mm/h).
  • Acumulação significativa em pouco tempo, como dezenas de milímetros em 30 minutos ou menos, que se traduzem em alerta ou aviso vermelho.
  • Persistência ou repetição: embora principalmente a intensidade seja o que define “torrencial”, se esse padrão se prolonga ou se repete, o risco e uso desse termo aumentam.
  • Impacto local: se essa chuva causa efeitos adversos imediatos (alagamentos, risco de cheia ou de massa, impedimentos no trânsito, etc.), muitas vezes é relatada como torrencial.

Este explicador mostra que a chuva torrencial não é apenas uma questão de quantidade de água, mas também da sua intensidade e duração, combinada com o relevo e a infra-estrutura urbana, fatores que determinam a rapidez com que um aguaceiro ou tempestade pode transformar-se numa situação de risco.

E, já que o tema é chuva, terminamos assim o Explicador de hoje: