Escritor Avi Shlaim 'pessotimista' sobre o conflito israelo-palestino
O historiador israelita Avi Shlaim disse hoje estar "pessotimista" em relação ao conflito israelo-palestino: pessimista porque que não acredita que esteja próximo do fim e otimista porque acredita que a justiça acabará por prevalecer.
"Sou um pessotimista", afirmou o escritor, em Óbidos, esclarecendo estar "pessimista quanto ao facto de este conflito não se resolver num futuro previsível", admitindo que provavelmente, "não se resolverá" durante a sua vida.
Mas, por outro lado, acrescentou: "Estou otimista quanto ao facto de, a longo prazo, este conflito não poder persistir".
Na opinião de Avi Shlaim" Israel não continuará a escapar ao assassínio e a justiça acabará por prevalecer", o que significa que "os palestinianos terão liberdade e igualdade na sua própria terra".
Avi Shlaim falava na terceira mesa do Fólio, com William Sieghart sobre o tema "O outro". Uma conversa em que abordaram o acordo de paz entre Israel e o Hamas, que ambos reconhecem ser "um avanço" no conflito que dura há mais de dois anos.
Para os dois oradores a dúvida é até quando se irá manter este acordo que o primeiro, lembrou William Sieghart, o primeiro-ministro Israelita, Benjamin Netanyahu "só assinou porque Donald Trump mandou".
O futuro de Israel e da Palestina "está nas mãos destes homens, o que seria cómico, se não fosse trágico", afirmou Avi Shlaim, acrescentando que " Netanyahu é um criminoso [de guerra] e Donald Trump um condenado".
Na conversa em que os dois oradores demonstraram partilharam visões sobre o conflito, ambos sublinharam a importância da opinião pública internacional para pressionar Israel a por fim ao conflito, embora Avi Shlaim, " considere que "enquanto tiver o apoio de Trump, Netanyahu vai ignorar a pressão internacional e das Nações Unidas".
Seja qual for a solução para o conflito, ambos concordam que passará sempre por sentar os líderes e Israel e do Hamas à mesa das negociações até que as partes consigam apertar as mãos.
Só que enquanto William Sieghart consegue pensar nesse esse aperto de mão como "um cenário real", para Avi Shlaim tal não passa ainda de "uma ideia romântica".
"Até conseguir que ambos os lados se juntem, muito tem que mudar ", afirmou o escritor, reafirmando que falta neste processo "uma voz da palestina".
O Fólio, que decorre em Óbidos até ao dia 19, sob o tema Fronteiras, conta nesta edição com três laureados com o prémio Nobel da Literatura: escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, o sul-africano J. M. Coetzee e o húngaro László Krasznahorkai, entre cerca de 800 autores e artistas que protagoniza, mais de 460 iniciativas em torno da literatura.
Organizado pelo município de Óbidos, em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel, o Fólio realiza-se desde 2015 na vila classificada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO.