Castro: Manifestação de desejo na contrariedade
A 17 de dezembro de 2024, dia do debate e votação da moção de censura apresentada pelo Chega Madeira ao Governo Regional, houve quatro frases de Miguel Castro que, pela sua estranheza, não deveriam ter passado despercebidas.
Na sua intervenção final, antes da votação da moção, o líder do Chega Madeira disse, dirigindo-se ao Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque:
- «A Madeira não cresceu economicamente? Cresceu Sr. Presidente! Cresceu bem. Eu sei que terá a capacidade de a fazer crescer novamente, se, efetivamente, formos para eleições.»
O líder do partido que teve a iniciativa de submeter a moção, que visa, em última instância, a queda do Governo, reconhece a capacidade de Miguel Albuquerque de continuar a fazer o que até então havia sido alcançado?! [Miguel Albuquerque] terá a capacidade de fazer crescer novamente a economia, se, efetivamente, formos para eleições.
Estranha afirmação, não é!?
Na verdade, o que poderia parecer à primeira vista um lapso de Miguel Castro, não o é, conhecendo hoje, como conhecemos, a decisão da comissão política do Chega Madeira de não acatar, por discordância, a ordem emanada de Lisboa, de André Ventura.
Com aquelas quatro frases, Miguel Castro confessou que a sua ação, vergada à imposição de Lisboa, é oposta ao seu pensamento.
O discurso de Castro é o de um homem ciente do que não deveria ser feito e que se desculpa pela sua ação.
O problema é que a desculpa não diminui as consequências da ação. Deitar um Governo abaixo, quando o próprio reconhece o valor da estabilidade e do que se vinha alcançado em benefício do Povo e da Região, não é um pormenor.
Luís Freitas