Luxo silencioso: o menos que é mais
Não é só no guarda-roupa e nos acessórios que está em crescimento. Também no imobiliário
Em oposição a anos de brilho e extravagância, de um consumismo voraz, de marcas e de símbolos gritantes, o luxo silencioso surge discreto, lento e seguro na sua cada vez maior presença na sociedade. Mas afinal de que falamos, quando se fala de ‘quiet luxury’?
Essencialmente o luxo silencioso como o nome indica é um luxo que se afirma sem se fazer notar. É uma escolha de vestuário que habitualmente está associada também a um mesmo estilo de vida e que passa por apostar na qualidade que perdura ao invés da quantidade; no minimalismo sem prescindir do conforto e de grandes marcas. É uma espécie de clube privado em que geralmente são os membros que se reconhecem; é o valorizar o que é bom e raro, pelo prazer de o fazer, sem necessidade de gritar para todos por quem passa que disso está a usufruir.
“As peças de vestuário mais cobiçadas já não são aquelas que gritam com logotipos evidentes, mas sim as que murmuram através da perfeição dos materiais e do corte impecável”, escreveu Rafael Ascenso na Forbes.
Mas o quiet luxury não se fica pelo que vestem, ainda que grandes marcas esteja a adoptar também elas este perfil mais reservado, em linha com esta tendência. O imobiliário também entra neste conceito, com um grande despreendimento e valorização de localizações únicas, vistas soberbas, exposição solar, arquitectura e materiais cuidadosamente selecionados, a par de uma maior ligação à natureza e preocupações de sustentabilidade. Há consciência do valor do que não tem preço. Dentro e fora, o supérfluo dá lugar ao complexo e sofisticado, sempre com um cunho muito prático e muitas vezes por trás de uma enganadora simplicidade. É apenas aparente.
“Este tipo de luxo não é definido pelo seu preço, mas sim medido pela qualidade intemporal de um número cada vez menor de diferentes materiais e pela combinação de funcionalidade sem sacrificar a beleza, quer natural, quer ‘artificial’”, diz o mesmo autor. Nas casas, por exemplo, não são os metros quadrados e os dourados que importa, mas a qualidade da experiência que proporcionam e a sua integração no meio envolvente.
Nesta corrente silenciosa eleva-se o lema do menos é mais. O verdadeiro luxo reside na simplicidade, na atemporalidade, na discrição e na durabilidade. É a resposta a uma sociedade permanentemente conectada e saturada de estímulos visuais. É uma filosofia de vida em claro contraciclo com o instantâneo e fugaz promovido pelas redes sociais, a negação de um mundo com que um número cada vez maior de pessoas não se reveem. A ostentação foi sempre coisa de novos-ricos, conta-nos a História, por oposição às elites tradicionais e ao ‘old money’, como rotulam os ingleses.
O luxo silencioso aposta predominantemente numa palete de cores neutras e clássicas, em cortes elegantes e ajustados, em peças funcionais e numa verdadeira ligação a uma marca. Loro Piana e The Row são marcas âncora do quiet luxury, tudo o que desenham e comercializam é apenas aparentemente banal. Esta última, fundada pelas irmãs Mary-Kate e Ashley Olsen recentemente chocaram os convidados ao proibir quaisquer registos de imagem no seu desfile, incluindo à comunicação social. Deram-lhes um bloco de notas para escrever e desenhar. É tão selectiva que se dá ao luxo de não ter presença oficial nas redes sociais, em nome da privacidade e exclusividade.