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O “darling” e o cuspidor na sala de espera do hospital de Cascais

Estou cheia de medo de ligar a televisão. Hoje é domingo, mas até este artigo sair, temo que alguém caiu e está num Hospital em Cascais ou alguém cuspiu num copo de água ou chuchou no polegar na Assembleia da República. Já agora, parabéns ao presidente do Parlamento por ter evocado os nomes dos quatro mortos de Abril e a Portugal por finalmente ter assumido o passado.

Não sei se isto são alucinações, se são sonhos, ou se vi mesmo o mais alto Magistrado desta Nação Valente e Imortal revirar os olhos de enfado e sacudir as bochechas como um São Bernardo depois de beber água num tacho e a baba a ser projetada a dezenas de metros. Não, não vi. Não vi a parte da baba, mas vi sacudir as bochechas depois de olhar para o céu a pedir que o tirassem daquele filme.

Como eu o entendo. Não deve ser fácil dar tantos beijos. Prefiro os apertos de mão de fazer luxações nos ombros. Apertos de mão rápidos, não lentos…que isso é de quem vem lá dos lados de Goa. Aqueles apertos de mão têm uma ruralidade com uma classe e um glamour que fazem a Betty se atirar pelas escadas abaixo com o desgosto. Vá lá que a “darling” só partiu um osso. Tem de aprender a andar de saltos com o marido.

O homem com mãe da Covilhã e pai de Celorico de Basto, portanto, duas grandes cidades litorais e desenvolvidas, podia aproveitar o facto de viver perto do hospital onde está a herdeira dos diamantes e, hipocondríaco como é, ir medir a tensão arterial ou encher a caixinha dos comprimidos. Como o marido dela não pode visitá-la (não sei se hoje já foi preso) podiam sentar-se os dois na sala de espera. O “darling” dava aulas de etiqueta ao cuspidor de fogo (desculpem, de água) e ensinava-o que chuchar o dedo era coisa da classe baixa. Habituado a visitar toda a gente quando está internada, mesmo que as pessoas não queiram, o filho do casal rural podia ir ver a senhora em vez do marido e trazer notícias à sala de espera. Podiam deixar de ser verdade, já não seria a primeira vez que trocava as versões das coisas, mas importava é que não deixasse o homem sofrer sem saber da sua fonte de rendimento, perdão, do amor da sua vida.

Por isso, nas últimas semanas percebi o que era sentir “vergonha alheia”. Andei à procura do esplendor de Portugal e só encontrei a última sílaba. Senti dor, porque aquelas quatro horas usadas para a principal figura da Nação enxovalhar quem o povo elegeu (antes e agora), devem ter sido filetes para os jornalistas. Sem vichyssoise ou mentiras do género próprias de um “esquizofrénico”, como lhe chamou Vicente Jorge Silva. Uma consulta rápida ao amigo google tem inúmeros de exemplos de casos.

Uns dias na sala de espera com o outro vão ser bons, acaba a falar de unhas e de marcas de malas, para quando chuchar no dedo saber a verniz. Só que a mim, ao contrário da maioria, cada vez mais faz sentido a frase do seu grande amigo Paulo Portas: “Deus deu-lhe a inteligência e o Diabo deu-lhe a maldade”.