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Caloiros na política, experientes na emigração!

O chavão de que “os jovens não se interessam pela política” tem envelhecido rapidamente, mas à medida que o tempo passa percebemos a quem interessa o alegado afastamento dos jovens na política.

Portugal não se pode vangloriar com uma “geração mais qualificada de sempre” quando é manifestamente incapaz dela usufruir. E usufruir em todos os sentidos, mas também na política. A competência que uma geração jovem tem, quer na sua aptidão técnica como política, não pode ser descurada por simplesmente ameaçar o status quo daqueles que usam a política para serem servidos, e não para servirem.

As Assembleias Regionais, a Assembleia da República e o Parlamento Europeu são instituições onde a dialética parlamentar exige uma habilidade retórica e argumentativa ao alcance de poucos. Ultimamente entram por estes órgãos adentro pagodes convencidos de artífices da palingénese nacional que, para além de promotores de um ambiente beligerante, recorrem à idade das cavernas para justificar o seu mérito – ou a falta dele – para ali estarem, não gozando do dom da oratória e não conseguindo cumprir a mais básica função num Parlamento – parlar.

As exigências oratórias na academia obrigam os jovens a padecerem das competências de eloquência que os interessados em manter o status quo não possuem, e, portanto, ignoram a realidade destas mudanças perpetuando uma subserviência religiosa da conjuntura que melhor lhes serve.

Os discursos folclóricos que são feitos em torno da juventude do nosso país, sobretudo em altura de campanhas eleitorais, até hoje, não passam de vontades momentâneas das quais não advêm consequências. Aliás, os paternalistas só se importam com os caloiros quando eles lhes são úteis, especificamente nos atos eleitorais, já que as cordas vocais dos novatos e a energia que carregam vale mais do que as qualidades dos vaidosos provincianos. Mas termina aqui. A sua única utilidade é berrar nos microfones, erguendo o braço em punho ou a mão em V, enquanto hasteiam bandeiras, sem que nunca lhes seja reconhecido o mérito – e que não se entenda por reconhecimento uma qualquer referência num qualquer discurso.

É inadmissível que, na nova composição da Assembleia da República, apenas existam 10 deputados jovens (sub-30) num espaço de 230 deputados. Ainda me lembro das críticas que vários alarves desmedidos, sem ambição e vontade de futuro, fizeram a Mariana Vieira da Silva por ter nomeado para o seu gabinete um jovem recém-licenciado que iria auferir 4 mil euros por mês. Não é este jovem que está mal, são todos os outros que também merecem um vencimento deste calibre, mas o país é incapaz de lhes proporcionar. Ou agora seguimos a lógica azeda e apodrecida do BE, de que, por haver um pobre, não pode haver 10 ricos?

A nós – jovens – não nos podem apelar a rigorosamente mais nada. Mas nós exigimos que se faça muito mais, pelo nosso futuro. E ninguém melhor que nós para colocar em prática as políticas que garantem uma reviravolta no estado atual da juventude em Portugal.

É preciso mudar uma taxa de desemprego jovem a 23%, quando a taxa de desemprego geral ronda os 6%. É preciso mudar o facto de que os salários dos jovens portugueses são os segundos mais baixos da União Europeia. É preciso mudar o curso da promessa não cumprida de 15 mil camas em residências universitárias. É preciso mudar a realidade de que 75% dos jovens recebe até mil euros por mês, e 40% recebe até 800 euros. É preciso mudar a realidade de que, apesar de sermos os mais qualificados, ¼ dos jovens em Portugal estão em risco de pobreza ou exclusão social. É preciso mudar um salário médio para os jovens que é cerca de 900€ por mês. É preciso mudar a falta de 46 mil camas para estudantes deslocados em Lisboa e no Porto. É preciso mudar a idade média de saída da casa dos pais, que, hoje, só acontece aos 30 anos.

E... se não mudarmos, 1 em cada 3 jovens que nasce no nosso país continuará a emigrar. Se não mudarmos, Portugal continuará a envelhecer a cada dia. Se não mudarmos, continuaremos com o drama do inverno demográfico. Se não mudarmos, permaneceremos incompetentes. Se não mudarmos, continuaremos a ser os mais experientes na emigração jovem. Se não mudarmos, continuaremos a destruir o futuro da nossa Nação.