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Análise

Já sabe em quem vai votar?

É óbvio que este PSD está fragilizado e Manuel António pode protagonizar uma ‘lufada de ar fresco’

1. De hoje a oito somos chamados a escolher os deputados que nos vão representar na Assembleia da República e de onde sairá um novo governo para Portugal. Se é verdade que os dias da campanha têm sido mais folclore e lateralidades do que de propostas concretas para o futuro colectivo não há desculpa para que não se conheça os eixos prioritários de cada partido. Mas atenção aos ‘soundbites’ hilariantes, aos ziguezagues diários e às promessas impossíveis de cumprir. Vale tudo na arena diária para consumo televisivo. No CDS, que integra a AD, há quem peça a reversão da lei do aborto, essa prioridade gigantesca que vai melhorar a vida de milhões de portugueses. Até Pedro Passos Coelho regressou para falar dos imigrantes e da insegurança, como se estes fossem, de facto, problemas que tenhamos de resolver no imediato. Um ex-primeiro-ministro que se baseia em “sensações” e não em certezas que abundam em tudo o que é relatório de segurança interna: imigração não rima com insegurança, ponto final.

No PS, tenta-se fazer de tudo para que ninguém se lembre do que não conseguiram solucionar com uma maioria absoluta na mão. A pressa é tanta que o secretário-geral veio à Madeira para apenas debitar uns ataques ao principal adversário, em apenas três horas de visita. Sobre questões concretas que atormentam os madeirenses, zero. O chefe do PSD nem se atreveu a cá passar.

E assim vamos com debates para todos os gostos, com comentários noite dentro sobre tudo e mais alguma coisa, menos sobre o que verdadeiramente importa. Estamos perante a futebolização da política, onde não faltam propostas vagas e absurdas, sobretudo por falta de cabimento financeiro.

Estão os eleitores mais esclarecidos ou temos mais circo do que pão? Sabem o que defendem, com clareza, cada concorrente às eleições de 10 de Março? Não se deixe iludir, seleccione o que lê e, principalmente, onde lê. Reflicta sobre as medidas que lhe são apresentadas, compare-as e veja se têm aderência à realidade. Esteja atento ao ‘fact checking’ porque há muita mentira propalada nas redes sociais e muitas afirmações delirantes que assentam sobre falsos pressupostos. Tem uma semana para decidir, na certeza de que a 11 de Março acordaremos sem uma solução política duradoura. Nem à esquerda nem à direita.

2. Manuel António Correia decidiu ir a jogo e disputar a liderança do PSD-M com Miguel Albuquerque a 21 de Março, três dias antes do Presidente da República ficar com o poder de dissolver a Assembleia Legislativa. O ex-secretário regional de Jardim não tem muito tempo para apresentar as suas propostas para o partido e sobretudo para a Região. Sendo líder do maior partido arrisca-se, caso saia vencedor, a ser o próximo presidente do Governo Regional. É por isso determinante sabermos o que pensa sobre tudo porque não conhecemos uma linha do seu pensamento há pelo menos 10 anos.

Nesta corrida, Albuquerque leva vantagem porque não só domina a máquina do partido como está a usar o cargo de presidente do Governo para fazer campanha interna e segurar os que outrora não estiveram consigo. Aliás, a retoma da sua agenda pública foi calculada em torno da eleição interna. A outra, determinante para a Madeira, passou para segundo plano. Chega a ser penoso ver Pedro Coelho a carregar a bandeira sozinho, encabeçando uma candidatura de coligação com o CDS, entretanto corrido por Albuquerque.

É óbvio que este PSD está fragilizado e Manuel António pode protagonizar uma ‘lufada de ar fresco’, tal como o seu adversário em 2014, se conseguir mobilizar não só os descontentes, mas também os indecisos.

3. As consultas em espera no Serviço Regional de Saúde tiveram um aumento exponencial em 2023. Mais 47% do que no ano anterior. No final do ano passado, mais de 45 mil utentes aguardavam a sua vez por uma consulta de especialidade. Apesar de a produção total superar em 6,5% os valores de 2022, é um facto que a situação em geral piorou em muitas especialidades, com Ortopedia à cabeça, que tem uma espera de mais de oito mil pessoas (+90%)! O cenário adensa-se em muitas mais. Apesar de todos os esforços que a tutela diz ter colocado em marcha, a verdade dos números revela outra realidade. Na prática, os que podem recorrer ao privado, fazem-no, resolvendo com maior ou menor dificuldade o seu problema. Mas o cenário muda de figura quando entram em campo as cirurgias. Aí, a maioria dos doentes, especialmente os que não estão cobertos por um subsistema de saúde ou seguro, não consegue recorrer ao particular. Têm de suportar uma espera muitas vezes longa e injustificada, sabendo que são – na quase esmagadora maioria dos casos – os mesmos médicos que operam tanto no público como no privado. Uma consulta ao corpo clínico de cada especialidade revela facilmente esse facto. E muitas vezes o que é clinicamente urgente para o médico do privado não o é para o que presta serviço no público… Um dilema de difícil resolução, mas que merece reflexão por parte da tutela política.