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Madeira

Quando o Natal reaviva o luto

A psicóloga Carolina Correia explicou que o luto está presente o ano inteiro, mas “há alturas do ano em que se faz sentir mais, especialmente em datas festivas”

O Natal é sinónimo de reunir a família e, o que durante muitos anos foi motivo de extrema felicidade, pode de um momento para o outro deixar de o ser, quando, à mesa, começam a surgir lugares vazios.

Ao DIÁRIO-Saúde, a psicóloga clínica Carolina Correia adiantou que o luto está presente durante todo o ano, mas que existem datas que trazem ao de cima sentimentos que muitas vezes já são tidos como superados, porque ao contrário do que muitas vezes é difundido “não é um processo contínuo, apesar de ser dividido em cinco fases, que podem ser sentidas aleatoriamente, como negação, raiva, negociação, depressão e aceitação”.

A profissional de saúde sublinhou que muitas vezes as pessoas se recusam a celebrar a quadra festiva, por achar que já nada faz sentido sem a presença do ente querido que partiu.

O facto de não ter nada em casa alusivo ao Natal, não torna a dor mais pequena, muitas vezes piora, porque o não estar decorado vai lembrar sempre o porquê. O processo de enfeitar o pinheiro pode permitir recordar momentos felizes. Se aquela pessoa se mantém nas nossas memórias e nas nossas acções ela está viva em nós. Carolina Correia, psicóloga clínica

O luto activo é o maior conselho que a profissional em saúde mental deixou a todos aqueles que estão a passar por uma perda, explicando que “continuar é a melhor maneira de honrar.”

“Fazer uma decoração de Natal específica com um tema que a pessoa gostava, se o ente querido que partiu fazia sempre as broas de mel, podemos juntar a família e fazer, são formas de manter a pessoa na nossa vida”, referiu.

Carolina Correia explicou que realizar estas actividades é fazer luto, “porque estamos a fazê-lo porque aquela pessoa que gostamos muito e sentimos a falta já cá não está, mas não estamos a deixar que aquela perda tome conta das nossas vidas e que nos faça sentir sempre tristes”.

Reconhecer a própria dor e partilhar pode ajudar uma família a se recompor mais rapidamente, explicou, deixando a título de exemplo uma situação de que teve conhecimento, onde um elemento de uma família faleceu.

A criança mais nova confrontou os restantes familiares dizendo que parecia que toda a gente já se tinha esquecido da pessoa que tinha falecido. Todos os elementos estavam a tentar se proteger uns aos outros ao não falar do quanto estavam tristes e a se sentir mal. A ideia que a criança tinha era que já toda a gente estava bem e só ela é que não, o que não era verdade.

A partilha é um reconhecimento de que “eu vejo-te e sinto o mesmo”, referiu Carolina Correia, enfatizando que “a maioria das pessoas pensa que tem de ser forte pelos outros, mas o melhor é reconhecer e se permitir sentir.”