Natal é família
Se tivesse que escolher um sinónimo para o Natal, seria, sem dúvida, família. A “Festa”, como chamamos esta quadra na Madeira, é tempo de alegria, de prendas, de fé e de preparar a casa e o coração para a chegada do Menino Jesus. No entanto, para mim, o verdadeiro significado desta época reside na união familiar.
Dezembro é, sem dúvida, o mês mais encantador na nossa ilha. A Madeira, vista ao longe, parece uma lapinha gigante, com as luzes a iluminar as encostas e os corações de quem aqui vive. É nesta altura que começam as Missas do Parto, uma das tradições mais queridas da nossa terra, que reúne famílias e comunidades em celebrações de devoção e partilha. Estas missas matinais, acompanhadas de cânticos e animação, culminam em convívios onde não faltam as típicas broas de mel, licores e poncha.
Quem segue o legado dos avós sabe que é tempo de semear o trigo para a lapinha, e de ir ao campo apanhar alegra-campo para enfeitar a casa. São estes pequenos gestos, passados de geração em geração, que tornam o Natal tão especial, um verdadeiro testemunho da ligação entre o passado e o presente.
As ruas iluminam-se, e o ar enche-se de aromas de canela, mel e especiarias. É este ambiente que nos faz acreditar na magia do Natal, convidando-nos a esquecer o cansaço e as dificuldades do ano que termina. E, ainda que seja apenas por um instante, somos levados a ser mais solidários, mais felizes e a renovar a nossa fé.
Na Madeira, as tradições de Natal têm o dom de se reinventar, sem nunca perderem a sua essência. Acolhemos novos costumes, da mesma forma que os nossos emigrantes levaram consigo as tradições madeirenses pelo mundo fora. Quem diria que a nossa carne de vinha d’alhos inspiraria o prato típico de Natal na Trindade e Tobago?
Mais do que uma data, o Natal é um sentimento. É feito de memórias e aromas, de receitas que recuperamos, de ecos de tempos passados e, sobretudo, das lembranças dos Natais da nossa infância.
A verdadeira magia do Natal está ali: na mesa da Noite da Consoada, com a família reunida, ano após ano, na casa dos avós. Não importa se a mesa tem fartura, mas sim que nenhuma cadeira esteja vazia. Ir à Missa do Galo, participar nas romagens e, depois, abrir presentes, jogar dominó, uma partida de bisca ou “casino”, faz parte do ritual. É essa proximidade que dá sentido à época, pois o que realmente importa não é como celebramos, mas com quem.
Mesmo na distância, os nossos corações permanecem unidos. Uma simples broa de mel ou o som de um despique é suficiente para nos transportar para os Natais da nossa infância, aquecendo-nos a alma com a magia única e especial desta quadra.
Porque o Natal é, acima de tudo, família. É amor, partilha, tradição e o elo invisível que nos une aos que mais amamos. Que este Natal seja repleto de alegria, união e momentos inesquecíveis. Feliz Natal!