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Sou um cidadão do mundo

O tempo e as circunstâncias obrigam-me a regressar àquele mural do metro da Cidade Universitária, por onde passei, primeiro naquelas manhãs firmes a caminho da Faculdade de Direito de Lisboa e, depois, nas tardes serenas de regresso ao Alto da Barra, outro dos lugares que será para mim sempre sagrado, por todas as razões que guardo, mas especialmente porque continua a ter tanto do meu pai. “Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo”, diz o pensamento naquela parede. E sou do mundo. Sou eu e sou livre e não deixo que nenhuma força me empurre e me procure amarrar a qualquer lugar. Nenhuma amarra me prende porque serei sempre livre e do mundo. Estarei onde tiver de estar, sempre com as minhas raízes bem definidas e com os meus lugares no coração e na alma, mas sou, acima de tudo, do mundo, também porque só assim darei mais mundo à minha terra e aos meus lugares e darei mais dimensão ao meu mundo, para além de tudo. Porque somos terra e somos vida livre. E não há vida sem a liberdade que o carácter e a independência asseguram, afinal a independência é o grande caminho para a liberdade verdadeira.

Gosto de ganhar e de perder. Ganho tranquilo e perco sereno. Perder nunca fará de mim pior. Perder é, muitas vezes, uma mera imposição insensata, quase aleatória, alicerçada no desconhecimento e na impreparação, na escuridão e no medo. A democracia subvertida pela superficialidade legitima o medíocre. Não tenho medo do “não”. A Sónia Tavares, vocalista dos “The Gift”, dizia, há pouco tempo, aqui no Funchal, num concerto intimista, verdadeiramente sublime, que construiu a sua carreira em cima de muitos “nãos”. E como é boa a solidez do “não”. Foi um concerto profundo, também com importantes reflexões humanas, para além da música, que tocou, emocionou e marcou profundamente os meus filhos. Eles são o futuro. E como é importante preparar com profundidade o futuro. A verdade é que devemos estar todos aqui pelo futuro. O presente deve ser a plataforma do futuro onde tudo se constrói. Gosto da construção. E gosto da desconstrução. Não há o hoje sem o amanhã. Com sol ou com chuva. De dia ou de noite. Preenchido ou vazio.

Divirto-me na despedida. Desvalorizo. Recuso o drama. Considero, desconsidero, tiro, ponho, ignoro, avanço, com força. Sou sangue e coragem e não sou de modas. Não sigo multidões e fujo dos estereótipos e de tudo o que é apenas normal. Sirvo de coração e a troco de nada. De forma discreta e no meu recato. Não complico. Simplifico. Mostro. Faço. Sou lume e sou verdade. Detesto o ruído histérico dos que fingem servir para se promover em protagonismos de sacristia. Tenho fé e pratico-a à minha maneira. Sem calma, mas com a alma que nunca entrego. Recuso. Digo “não”. Afasto-me. Atrevo-me. Regresso e confesso. Não vou. Decido. Só faço o que quero. E não quero mais.