Jovens do Mundo com Jesus (JMJ)

Anteontem de manhã (3) recebo notícia triste. A sobrinha de um amigo, teve uma crise de noite, no Porto Santo. Estavam de férias. Acionada a emergência, um avião da Força Aérea Portuguesa transportou a pessoa para o hospital do Funchal; operada alta madrugada a uma hérnia estrangulada, saiu do perigo. À tarde, perguntei a familiar como estava a operada, se estava a correr bem e veio a surpresa. É esta bebé de um ano! Esta? A menina corria a sorrir à volta da mãe e do pai, contentes. Sem dores, nada. As ordens foram de levar vida normal. Milagre? Aquele cerebrozinho ADN, de 20 meses, ia coordenando tudo, rápido e bem; não era chip morto, era um corpinho vivo a sopro divino com sentido e futuro. E veio a questão do segredo de um milhão e meio de jovens desde a pré-JMJ ter corrido tão bem como nunca?

Inseri-me em quatro grupos de pré-jornada JMJ, um de 50 jovens da Califórnia, duas vezes num de 50 italianos e um quarto de 500 peregrinos acolhidos na Madeira.

O primeiro com almoço e visita English spoken, em “S. João de Deus” do Trapiche; o segundo em celebrações, eucarística e penitencial; os 500, vindos de longe, com os 900 da Madeira, em celebração da missa, com três bispos e duas dezenas de padres, no Parque de Santa Catarina, coro notável e multidão emoldurada por cenários de flores e árvores. Pelas paróquias, havia alojamentos e corações calorosos de acolhimento. E funcionou bem nas dioceses e no pequeno Portugal nos seis dias da Jornada.

Do dia 1 a 6, colado às televisões via e ouvia maravilhas da Jornada e das palavras do papa Francisco! Eram cenários de encontros, abraços, alegrias, sorrisos, hinos e sentido de vida. Havia coreografias, coros, via-sacra, desfile de bandeiras de mais de 150 países; (180, no acolhimento ao Papa, dia 2), atuação de grupos, espontâneos e ensaiados, e mais encontros, abraços e sorrisos. Que ADN coordenava as multidões? Não era programa político, manifestação de rua e menos ainda de sindicatos ou partidos desavindos. Por entre sorrisos e abraços não espreitavam olhares tristes nem palavras de luta e raiva, só multidão inventiva, organizada e colaboradora que ali e acolá, alternava oração do terço, adorações ao SS., por igrejas, à pinha, conhecidas dos jovens vindos de longe. A Jornada empolgava a todos qual desenrolar de orquestração de centenas de eventos disseminados por toda a Lisboa. O Tejo, em sons barítonos, alongados, a pacificar, com o seu azul arrastado algum desconforto de sombras e feridas dos abusos sexuais a crianças; murmurava baixinho que ao lado da Igreja outros grupos também peçam perdão às suas vítimas e apliquem fármacos de bálsamo, como faz o Papa e outros pastores às da Igreja. Em Fátima, a oração pela paz tornou-se densa com o Papa a falar baixinho com a Mãe e Filho Jesus. Jornalistas, comentadores, entrevistados iam dizendo que não tinham palavras para exprimir o que viviam. E Francisco a repetir aos jovens: dai sentido ao caos, tornai-o cosmos florido de esperança, não se limitem ao virtual ilusório das redes, concretizem, sujem as mãos a fazer bem a pobres e doentes. O Papa emocionou muitos ao repetir a Igreja é para todos, Deus ama a cada um como é e chama-o pelo nome. E ouve-se um advogado a testemunhar que apesar serem cerca de 90% de católicos em Portugal, esperou 20 anos para ver tantos jovens do mundo inteiro a dizer que vieram para encontrar outros jovens cristãos unidos em Cristo. E lamentava que se fala pouco da ressurreição e da vida eterna como se não se acreditasse que Cristo está presente na História. Paira o sentido de fechar o ciclo de globalidade cristã do séc. XVI, da luz da fé levada aos povos com algumas sombras: “ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho, batizai e ensinai”. Ao ser acolhido por cristãos, vivi muitas alegrias de pessoas a agradecer a fé que os missionários da Europa cristã levaram, há séculos, ao Sri-Lanka, Japão, China, Filipinas, Vietnam, Timor Oriental, Índia, Moçambique, Angola, Brasil e a dezena de países das Américas. Agora, os milhares de jovens vieram de todos os países da antiga missionação testemunhar a mesma fé cristã em Cristo que os seus antepassados receberam da Europa.

Ocorre a questão: que evento desfralda tantas bandeiras nacionais, sem notícias de carros incendiados, polícias atacados, vandalismo e agressões pelas ruas? Que cérebro organiza, coordena e harmoniza mais de um milhão de jovens a realizar 500 eventos em alegria? E o Presidente a afirmar que em Portugal nunca houve um evento democrático tão grande. Vai uma lista, ao acaso, de temas abordados pelo Papa: não tenham medo… ultrapassem o sistema elitista da universidade… e as medidas paliativas de progresso... Não esqueçam os problemas do clima… refugiados, migrações… natalidade… dimensão espiritual da vida… as visões de conjunto. Aos cristãos pede-se que sejam convincentes… e se associem para resolver as crises; aos jovens que se apresses no Caminho, como Maria, sem ansiedade, levem Jesus e façam o bem. Deixou o desafio: galguem as ondas da JMJ como os surfistas as ondas de Nazaré. Se só o ADN do sopro divino da bebé refaz os tecidos operados, só Cristo, a Cabeça da Igreja anima esta, seu corpo místico e animaram o milhão e meio de jovens da JMJ (cf. Col. 1, 12-20). A Jornada concretizou a palavra: “Eu sou a videira e vós os ramos”. O Logo da JMJ foi nela convertido em: Jovens do Mundo com Jesus. Os jovens foram enviados porque, como Pedro, quando estavam com Jesus no monte. Ouviram: este é o meu Filho, ouvi-O; e eles ouviram Jesus: «ide, levantai-vos, não temais» (Mt 17, 1-9). Bom caminho! Duas horas depois o Campo da Graça, junto ao Tejo, estava vazio.

Aires Gameiro