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JMJ 2023: Por favor refaçam as contas com o valor imaterial

Desde 2019 que se fala na realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal.

Primeiro pela indicação do Senhor Santo Padre Francisco de que o nosso País receberia este grande evento. Um momento de confraternização entre a igreja e os jovens católicos de todo o mundo, uma ideia do Papa João Paulo II cuja primeira concretização data de 1986, há 37 anos.

Em segundo, pelo atraso na preparação do megaevento que, devido à grandeza do mesmo, exigiria investimento público e uma capacidade organizativa ímpar e uma logística multi setorial e institucional.

Depois veio a parte das análises económicas e do retorno que o evento traria ao País. Um diagnóstico que teria, por um lado, a perspetiva de justificar o investimento a fazer bem como, e para os mais inconformados com a decisão, de demonstrar que a opção era errada, pelo prejuízo que acarretava e pelo fato de que o Estado, sendo laico, não deveria apoiar este tipo de iniciativa.

Foram muitas as notícias que abordavam o retorno do evento para o País. Foram apresentados muitos números que oscilam entre os 350 e os 600 milhões de euros. À partida, as diferenças apresentadas podem parecer incongruentes e até suspeitas, mas como economista, tenho de referir que tudo depende dos pressupostos de cada estudo e que, por isso, à partida poderemos ter de dar todos como válidos.

Independentemente das hipóteses consideradas e dos impactos estimados certo é que neste momento, e se quiserem mesmo fazer contas, seria justo os portugueses terem uma análise do retorno do evento mais abrangente e que contasse se com todas as dimensões do acontecimento incluindo as imateriais.

Seria mais que adequado podermos contabilizar o valor do impacto nos jovens e menos jovens deste mundo, milhões e milhões de pessoas que tiveram acesso às mensagens do Senhor Santo Padre, como por exemplo: “Não tenham medo”; “Na Igreja, há espaço para todos, para todos. Na Igreja, nenhum sobra, nenhum está a mais, há espaço para todos, assim como somos”; “O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se”; “Não existe amor abstrato, só amor concreto. O amor concreto é aquele que suja as mãos”; “Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos”; e “As Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa foi a mais bem preparada que já vi”.

Seria mais que adequado podermos contabilizar o valor da fé, da humildade, da felicidade, da esperança, da reflexão, da inclusão e da aceitação que se assistiu de 1 a 6 de agosto de 2023. Dos que estiveram fisicamente presentes e que desafiaram tudo e todos para poderem dizer a si próprios “eu fui” bem como dos que, como eu, pela comunicação social foram assistindo a tudo o que se passava.

Seria mais que adequado podermos contabilizar o valor dos intangíveis como o sorriso, os toques, os olhares e a disponibilidade do Papa Francisco para com os que se manifestaram por diversas formas ao longo dos muitos quilómetros percorridos.

Se assim fosse, estou certa de que a avaliação positiva seria exponencialmente maior, muito maior.

No entretanto, e enquanto não as contas certas não são feitas, como portuguesa, como católica e como Mãe, agradeço aos que muito contribuíram para a concretização destas jornadas. Agradeço aos peregrinos e aos inexcedíveis: voluntários, forças de segurança, membros da comunicação social, aos Lisboetas e a todos os que se viram privados da sua mobilidade e aos muitos madeirenses que estiveram presentes e que, em silêncio e oração, ou com a bandeira regional erguida fizeram questão de mostrar que fazemos parte de um todo.

Nas minhas contas tudo isto conta e não há milhões que paguem. Obrigada!