Madeira

Abandono dos silos de cereais no porto do Funchal foi há 25 anos

Só há duas semanas foi adjudicada obra para aproveitar o espaço para a Sala de Concertos da Madeira

Foto Manuel Nicolau
Foto Manuel Nicolau

Faz hoje precisamente 25 anos que o DIÁRIO noticiou que a Empresa Para Agroalimentação e Cereais (EPAC) tinha encerrado os silos de armazenagem localizados junto ao Porto do Funchal, na Avenida Sá Carneiro, e que se preparava para vender aquela instalação industrial.

A empresa nacional desistiu de explorar os silos e despediu o respectivo pessoal, ficando a Madeira dependente apenas dos novos silos de cereais construídos no Caniçal. Conforme o DIÁRIO referiu em 8 de Agosto de 1998, o problema da falta de alternativa ao Caniçal estava a preocupar quer o Governo Regional quer as empresas que têm nos cereais a sua matéria-prima. Isto porque subsistiam dúvidas sobre a operacionalidade da infraestrutura portuária da zona leste da Madeira, que na altura era constituída por um terminal aberto, mais sujeito à instabilidade do tempo e às correntes marítimas. "Até agora as coisas têm corrido bem, porque estamos no Verão. Mas quando um navio estiver ao largo durante duas semanas - como já ficou - à espera de atracar no Caniçal, pode haver rupturas", explicou uma fonte conhecedora do processo.

Os silos da Avenida Sá Carneiro foram construídos em 1987. Tinham capacidade para 12.700 toneladas e custaram 580 mil contos (quase 3 milhões de euros) e só funcionaram durante 11 anos. A opção pela suspensão da exploração dos silos derivou da reestruturação realizada na EPAC e da construção dos novos silos no Caniçal, que eram explorados pela Silomad. A Companhia Insular de Moinhos e a RAMA, que, em conjunto, movimentam 70 por cento dos cereais consumidos na Madeira, passaram a servir-se dos novos depósitos da zona leste. Em resultado desta situação, a utilização dos silos do Funchal ficou limitada. A opção da EPAC foi desactivar os seus silos e pagar à Silomad para servir-se dos depósitos do Caniçal para satisfazer os seus clientes. As escassas 700 toneladas/mês que na fase final passavam pelas estruturas da EPAC destinavam-se a pequenos industriais, que depois foram obrigados a fazer deslocar os seus camiões até à Zona Franca para serem servidos de matéria-prima.

Em 1998, o destino final da instalação industrial na Avenida Sá Carneiro permanecia em aberto. O Governo Regional pretendia manter os silos operacionais até que fosse construído o molhe exterior do terminal do Caniçal que passaria a oferecer garantias de maior operacionalidade da infraestrutura portuária. Por isso, admitia a possibilidade de comprar os silos à EPAC e entregar a sua manutenção a uma empresa. Possibilidade rejeitada à partida era a venda das referidas instalações para edificação de um projecto imobiliário, por tal contrariar as indicações do Plano Director Municipal.

Em Junho do ano 2000, a Administração de Portos da Madeira (APRAM) adquiriu o imóvel por 400 mil contos (cerca de 2 milhões de euros). O então secretário da Economia, Pereira de Gouveia, anunciou que os silos seriam demolidos por implosão e no espaço seria construído um edifício de escritório que iria servir de nova sede da APRAM. A verdade é que essa ideia não vingou e durante cerca de 20 anos verificou-se uma indefinição sobre o destino final daquela área, que era disputada tanto para actividades marítimas como culturais. Acabou por vingar esta última hipótese.

Em Setembro de 2021, o DIÁRIO revelou que o Governo Regional tinha decidido construir um edifício na zona dos antigos silos que servirá como casa da Orquestra Clássica da Madeira. Os últimos desenvolvimentos deste processo têm pouco mais de duas semanas. A 20 de Julho passado, o Conselho do Governo aprovou a adjudicação à empresa RIM a obra da primeira fase (escavação e contenção periférica) da empreitada da 'Sala de Concertos da Madeira', no valor de 1,6 milhões de euros. A empreitada global deverá custar 20 milhões de euros.