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Dez datas que marcam o percurso de Navalny e a sua oposição a Putin

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O principal opositor russo, Alexei Navalny, que sobreviveu a um envenenamento em 2020 pelo qual responsabilizou o Kremlin e que está detido desde 2021, foi hoje condenado a mais 19 anos de prisão por "extremismo".

A sentença hoje conhecida é a sua terceira e mais longa pena de prisão.

Eis uma cronologia das dez principais datas que marcam o percurso de Navalny e o combate que promoveu contra o líder do Kremlin, Vladimir Putin, segundo a agência France-Presse (AFP).

2007 - acionista de empresas públicas 

Licenciado em Direito empresarial, Navalny adquire a partir de 2007 ações de empresas semipúblicas para aceder aos respetivos relatórios de contas e exigir transparência.

No mesmo ano, é expulso do partido de oposição liberal Iabloko devido às suas posições classificadas como ultranacionalistas.

Através de um site que criou, sob o nome de Rospil, pesquisa e monitoriza desde 2010 casos de corrupção, ao analisar as contas e os concursos lançados por administrações de empresas.

Inverno de 2011: na liderança das manifestações anti-Putin 

No inverno de 2011, Navalny assume a liderança do movimento de contestação às legislativas ganhas pelo partido no poder. São os maiores protestos de rua desde a chegada de Putin ao poder em 2000.

O ativista e 'blogger' é alvo das primeiras penas de prisão.

Para combater a corrupção do Governo, Navalny cria o Fundo Anticorrupção (FBK).

Julho de 2013: processo por fraude 

Em 18 de julho de 2013, é condenado a cinco anos de detenção numa colónia penal por desvio de dinheiro de uma empresa madeireira localizada na região de Kirov (oeste), a Kirovles.

O opositor denuncia um processo político. Ao recorrer da sentença, obtém uma pena suspensa.

2013: candidato à câmara municipal de Moscovo 

Torna-se a cara da oposição russa ao recolher 27,2% dos votos na eleição para a câmara municipal de Moscovo em setembro de 2013, contra o presidente cessante Sergei Sobyanin, um nome próximo de Putin.

Dois anos mais tarde, a sua força política, o Partido do Progresso, é proibida.

2017: o protesto contra Medvedev e os patos de plástico 

Durante uma intervenção sobre uma investigação divulgada através da plataforma de partilha de vídeos YouTube, Navalny acusa o então primeiro-ministro Dmitri Medvedev de liderar um império imobiliário financiado por oligarcas.

Milhares de manifestantes em todo o país saem às ruas e exibem patos de plástico, numa referência a uma casa em miniatura, exposta numa das residências do primeiro-ministro russo, na qual estariam aguardadas figuras de patos.

2018: proibição da candidatura presidencial 

Em dezembro de 2016, Navalny anuncia a sua candidatura às presidenciais de 2018.

Seis meses mais tarde, a comissão eleitoral anuncia que é inelegível, invocando a sua condenação no processo Kirovles.

Agosto 2020: o envenenamento

Em 20 de agosto de 2020, o opositor é hospitalizado em estado grave na Sibéria e é transferido em coma para Berlim, a pedido da sua família.

Em 02 de setembro, Berlim conclui que foi envenenado por uma substância do "tipo novitchok", um agente neurotóxico desenvolvido para fins militares na época soviética.

Navalny acusa pessoalmente Putin pela ação, acusação que o Kremlin rejeita e classifica como "inaceitável".

Janeiro 2021: a detenção e prisão 

Após cinco meses de convalescença na Alemanha, Navalny decide regressar à Rússia apesar de ter a certeza que será detido, o que acontece assim que aterrou em Moscovo, a 17 de janeiro de 2021.

Dezenas de milhares de apoiantes do opositor manifestaram-se na altura para contestar a detenção.

A equipa do opositor divulga informações sobre um palácio construído por Putin nas margens do Mar Negro. A investigação obtém dezenas de milhões de visualizações no YouTube. O Presidente russo é forçado a desmentir as informações pessoalmente.

Em 02 de fevereiro, Navalny é condenado a dois anos e meio de prisão, com a justiça a converter em prisão efetiva a anterior pena suspensa por "fraude".

É enviado para uma colónia penitenciária em Pokrov, a cerca de 100 quilómetros a leste de Moscovo.

Cerca de 10 mil detenções são registadas durante manifestações de apoio.

A sua organização anticorrupção FBK é encerrada por "extremismo".

2021/2022: Prémio Sakharov e nove anos de prisão 

Em 20 de outubro de 2021, o opositor recebe o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu.

Na Rússia, o seu nome entra na lista de "terroristas e extremistas".

Acusado e julgado por "fraude" e "desrespeito ao tribunal", é condenado em 22 de março de 2022 a nove anos de prisão e transferido para um estabelecimento prisional a 250 quilómetros a leste de Moscovo, de onde continuou a denunciar e criticar a invasão russa da Ucrânia.

Agosto 2023: nova condenação por "extremismo" 

Navalny foi hoje condenado a 19 anos de prisão, na sequência de um novo processo por "extremismo" no qual o opositor estava a ser julgado desde junho à porta fechada.

A pena deverá cumprir numa nova colónia prisional com condições particularmente difíceis. Na véspera da leitura da sentença, o opositor afirma esperar uma pena "longa, estaliniana".

Em reação, a ONU apela imediatamente à "libertação imediata" de Navalny, enquanto a União Europeia (UE) considera a sentença "arbitrária" e "inaceitável".

Numa mensagem divulgada na sua página da rede social Facebook pela sua equipa de defesa, Navalny exorta os russos a continuarem a "resistir" ao regime.