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Altos funcionários da ONU chocados com aumento da violência contra mulheres no Sudão

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Altos funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciaram hoje o aumento da violência, incluindo sexual, contra mulheres e raparigas no Sudão, onde os combates pelo poder entre dois rivais duram há quase três meses.

Numa declaração conjunta, os chefes de várias agências das Nações Unidas responsáveis pelos direitos humanos, refugiados (ACNUR), crianças (Unicef), mulheres (ONU Mulheres) e saúde (OMS) sublinharam estar "chocados e condenam os relatos de aumento da violência baseada no género no Sudão, incluindo violência sexual contra mulheres deslocadas e refugiadas".

"O que vemos no Sudão não é apenas uma crise humanitária, mas uma crise da humanidade", disse Martin Griffiths, chefe de assuntos humanitários da ONU, considerando "inconcebível" o que está a acontecer a mulheres e crianças.

"Como resultado de tamanha crueldade e brutalidade, as mulheres têm pouco ou nenhum acesso a apoio médico e psicológico", acrescentou o alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk.

Desde o início dos combates "informações credíveis sobre 21 incidentes de violência sexual relacionada com conflitos contra pelo menos 57 mulheres e raparigas", chegaram ao alto comissário, segundo um comunicado onde se refere que num dos casos "pelo menos 20 mulheres foram violadas durante o mesmo ataque".

E dada a baixa notificação deste tipo de agressões devido à "vergonha, estigma e medo de represálias", "o número real de casos é, sem dúvida, maior", acrescentou.

Antes do início do conflito entre os dois generais que disputam o poder, em abril, "mais de três milhões de mulheres e raparigas estavam em risco de violência baseada no género", segundo estimativas da ONU, um número agora estimado em 4,2 milhões, refere o comunicado.

"As nossas equipas na região descrevem a terrível situação das mulheres e meninas deslocadas enquanto fogem do Sudão", realçou o alto comissário para os Refugiados, Filippo Grandi.

"Esta série chocante de violações dos direitos humanos tem de acabar. Há uma necessidade urgente de ajudar os sobreviventes", alertou, mas, até agora, o financiamento ficou muito aquém do necessário, já que o conflito obrigou 2,8 milhões de pessoas e refugiados a deixarem as suas casas.

O número exato de vítimas dos combates, entre as milícias das Forças de Intervenção Rápida (RSF, na sigla em inglês) e o exército sudanês, não é possível de contabilizar com exatidão, devido à situação de insegurança, mas pelo menos 1.173 civis foram mortos e 11.704 feridos, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), citando o Ministério da Saúde sudanês, em meados de junho.