Crónicas

O sapo que queria ser boi

Estranho os aplausos da bancada parlamentar social democrata e dos Secretários Regionais. Aplaudiram o silêncio pelo trabalho do Governo Regional e do seu Presidente ?

Tenho vergonha de a Região Autónoma da Madeira ter um presidente da Assembleia Legislativa que se recusa a pronunciar o nome do Governo Regional, e do seu Presidente, no dia da Autonomia. Não aceita elogiar praticamente 50 anos de governação própria.

A cerimónia parlamentar do dia 1 de Julho é, a todos os títulos, lamentável no discurso do seu principal anfitrião. A hipocrisia no auge do protocolo e dos festejos. Inaceitável, um presidente da maioria política em vésperas de eleições regionais, não citar por uma única vez, uma que fosse, o Governo Regional ou o seu Presidente. Uma manifestação de desprezo, por quem chegou à presidência da Assembleia Legislativa por força de chantagem pessoal, que foi incapaz de relevar 47 anos de Autonomia com desenvolvimento como nunca antes na História da Madeira.

A última oportunidade nesta legislatura para o elogio ! Daqui em diante, tudo o que for dito, é mera campanha eleitoral.

Estranho os aplausos da bancada social democrata e dos membros do Governo Regional presentes, com excepção, óbvia, de um único que não aplaudiu. O mais ofendido, naturalmente.

Aplaudiram exactamente o quê ? O desprezo e silêncio pelo trabalho do Governo Regional e pela epopeia que o PSD realizou nestas quase cinco décadas de Autonomia, os quatro últimos anos na companhia do CDS ? Aplaudem por tudo e por nada ? Lamentável !

Tem, José Manuel Rodrigues, vergonha de enunciar as palavras “governo regional” e “presidente do governo regional” ? Jurou não fazê-lo ?

Teve a suprema lata de nomear diversas personalidades, sem dúvida, marcantes da vida da Madeira, umas falecidas e outras em plena actividade, e não referiu Miguel Albuquerque. Tem explicação ou ainda tem dúvida ? Referiu Alberto João Jardim quando construiu toda a sua carreira política ofendendo o ex-presidente, denegrindo o seu trabalho e falseando a maioria das suas acusações. Vide os processos judiciais por difamação de Jardim contra Rodrigues. Não tenho pachorra, até porque é trabalho jornalístico que nenhum seu ex-colega parece querer fazer, de ir aos diários da Assembleia recuperar toda a sua verborreia sobre Alberto João Jardim e os seus governos, onde em alguns estive incluído.

Rodrigues construiu a sua carreira política na maledicência e, agora, pretende segurá-la com discurso balofo e oco para ignorante ouvir e agradar a toda a oposição de esquerda. Objectivo: agradar a todos mesmo que ofenda e ignore os seus.

A semana já tinha começado aziaga. A Câmara Municipal de Porto Santo convidou, mal na minha opinião, para presidir e encerrar a sessão solene do dia do município, o presidente da Assembleia Legislativa. As câmaras da oposição, para tirarem a presidência ao Governo Regional, convidam o Representante da República e, as câmaras do PSD, vá lá entender-se a razão, convidam o presidente da Assembleia o que acaba por ter o mesmo efeito: passam o presidente do governo para número dois.

José Manuel Rodrigues não se fez rogado e, deixando as salas do edifício da Assembleia no Funchal entregue ao uso por privados - o novo salão de eventos da Madeira - abalou para Porto Santo convicto do papelão que lá ía fazer. Vinha do Brasil e preparava-se para viajar ao Vaticano. Quer falar e aparecer sem contenção mesmo sobrepondo e procurando ofuscar o presidente do Governo Regional. Um presidente do Parlamento social-democrata não criaria, como nunca o fizeram os anteriores, o desconforto político que esta criatura não mede. É obcecado no desrespeito pelo presidente do Governo Regional e no não reconhecimento pelo extraordinário trabalho feito pelos governos do partido que o pôs no lugar: o PSD.

Então, para fechar a cerimónia municipal dispara que “o desenvolvimento de Porto Santo implica mais investimento e mais aposta no melhoramento dos seus pontos de atractividade”. Insiste que “estas necessidades impõem outros meios financeiros de que a Câmara não dispõe”. Entre outras. Reivindicações tipo presidente de clube de futebol. Com o presidente do Governo Regional a seu lado, e dois outros secretários regionais, nem uma palavra de solidariedade e registo por tudo o que este Governo Regional, como os anteriores, fizeram pela Ilha Dourada. E continuam fazendo. Uma vergonha indesculpável de quem, sendo de outro partido que nada fez pelo Porto Santo, pela Autonomia e desenvolvimento, esconde que faz parte de uma coligação.

Os partidos da oposição, oradores na sessão solene, pareciam meninos da catequese comparados com o opositor centrista José Manuel Rodrigues.

Tudo rebenta por dentro. Até as coligações. Rui Barreto, líder do CDS, tem de se impor e não fingir que não ouve nem vê.

Depois de dez dias no Brasil com a esposa - São Paulo, Rio de Janeiro e Coritiba - segue de visita ao Vaticano numa inexplicável viagem oficial, com despesas pagas pela Assembleia ao casal Rodrigues e assessoria (?), para uma audiência geral. O Papa é Chefe de Estado, nunca convidaria Rodrigues e esposa. Há protocolos obrigatórios na diplomacia internacional para convites oficiais. Por outro lado, só uma autorização da conferência de líderes da Assembleia Legislativa poderia tentar evitar que o Tribunal de Contas recusasse o pagamento da despesa. É tudo ilegal sem os devidos consentimentos formais. Até as ofertas.

Mas é uma escalada pessoal de falta de pudor sem paralelo nos 50 anos de Autonomia. A continuação de um percurso político egocêntrico, solitário, egoísta, vaidoso que não tem noção do seu lugar, da sua pequenez e do ridículo que só uma chantagem pessoal proporcionou. Tudo pago e consentido por nós. Pelo PSD na Assembleia, mas não só. Menos aceite por mim.

Uma proeza ridícula, enquanto viagem oficial, a de José Manuel Rodrigues. A título pessoal não veria qualquer inconveniente. Eu próprio não pude aceitar igual peregrinação duas semanas antes.

É a popular história do sapo que queria ser boi. Tanto inchou que rebentou. Por inveja do boi que parecia o dono do mundo.

A criatura ainda vai a Nova York para ser recebida pelo Secretário-Geral da ONU, António Guterres ou mesmo pelo presidente Biden ? Os seus sonhos são ilimitados já que o PSD não põe freio neste abuso. O seu descaramento é infindável. Antes, a presidência da Assembleia Legislativa tinha orçamento. Contido ! E pudor ! Agora faz o que quer. É o descontrolo total. Nunca antes foi assim. O homem não resiste.

O PSD parlamentar de agora prefere um chefe de outro partido a ter que escolher um entre os seus deputados. Garante a vários o segundo plano de um artista de outro partido. E lá andam felizes porque ao menos sub-chefes não deixam de ser. Chama-se a isso estar acomodado. É ver os seus “likes” no “Facebook” e “Instagram” do “seu” amado chefe, como meninos felizes e bem comportados.

Ainda me lembro, quando o presidente era do PSD, que o líder do grupo parlamentar laranja, Jaime Ramos, imponha condições à Mesa da Assembleia em todas as matérias da direção da vida no Parlamento. Era como a comissão política do PSD determinava. Agora não é. Ou, pelo menos, presumo que não deve ser, tal o descontrolo que por ali vai. Para o PSD, como diz o espanhol, “no passa nada”. E que nesta legislatura, faltando dois meses, já não tem cura.

Afinal, há muito a melhorar !