Madeira

João Pita Pombo regressa à Madeira para falar dos desertores da Guerra Colonial

Natural da Ponta do Sol, o orador convidado das ‘Conversas de Abril’ de amanhã vai partir da sua experiência pessoal para falar de uma temática que tocou muitas famílias madeirenses

As 'Conservas de Abril' continuam até final de Agosto, na Galeria Anjos Teixeira.
As 'Conservas de Abril' continuam até final de Agosto, na Galeria Anjos Teixeira., Foto DR/Arquivo

É madeirense, mas vive presentemente no continente, depois de alguns anos em França. João Pita Pombo é o convidado da Galeria Anjos Teixeira para mais uma das ‘Conservas de Abril’, agendada para amanhã, às 19 horas, naquele espaço cultural, à Rua João de Deus.

Conforme deu conta, ao DIÁRIO, Edgar Silva, ligado à organização deste ciclo de conversas que teve início em Abril último e que pretende assinalar os 50 anos da Revolução do 25 de Abril, o encontro agendado para amanhã insere-se “no conjunto de várias abordagens sobre factores e aspectos que concorreram para a Revolução de Abril fosse apressada e acontecesse”.

Em concreto, na sessão 'Guerra Colonial - O testemunho do desertor na primeira pessoa', João Pita Pombo vai abordar o posicionamento dos desertores, aqueles que se recusam a ir para África combater em nome de uma causa em que não acreditam, baseando-se na sua experiência pessoal.  

Natural da Ponta do Sol, onde mantém várias ligações familiares e onde regressa com alguma frequência, o orador convidado para a conversa de amanhã chegou a fazer toda a formação militar, repartida entra a Madeira e Mafra, com vista à sua incorporação num dos contingentes que seria mobilizado para a Guiné.

Mas, cerca de uma semana antes da sua partida, no final de 1970, ao ter conhecimento dessa sua incorporação, fez valer a rede de contactos que possuía e desertou para a França, onde se manteve até depois do fim da Guerra Colonial. 

Hoje, com quase 80 anos, João Pita Pombo aceitou o desafio lançado pelos organizadores desta iniciativa para percorrer as suas memórias, partilhando-as com uma plateia certamente interessada nestes assuntos, naquela que é mais uma tentativa da Galeria Anjos Teixeira em criar um diálogo sobre vários posicionamentos em torno desta guerra que, entre 1961 e 1974, assumiu diferentes contornos junto dos portugueses e a nível internacional.

Edgar Silva realça que “há um conjunto de posicionamentos, daqueles que estiveram directamente envolvidos na guerra, mas há também um processo de envolvimento de todos aqueles que, não estando na frente de combate, viveram este confronto de forma muita própria, como as viúvas que perderam os seus maridos, as mães que perderam os filhos”.

Consequentemente, nota que “é da conjugação destes diferentes posicionamentos que, sobretudo a partir de 1972/73, vários sectores da sociedade portuguesa se mostraram cada vez mais contrários à Guerra Colonial, movimento decisivo para acelerar e conduzir à Revolução”, sustenta, apontando para o contexto que amanhã será evidenciado por João Pita Pombo.