Madeira

“Precisamos de mais humanismo, precisamos de mais e melhor democracia”

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Fotos Miguel Espada/Aspress

Com um longo discurso, o Representante das República na Região Autónoma da Madeira lançou vários alertas e preocupações para o país, nas nossas comunidades emigrados e no mundo, num tempo, disse Ireneu Barreto, que "precisamos de mais humanismo, precisamos de mais e melhor democracia".

Na alocução nas celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu no Palácio de São Lourenço, no Funchal, começou por expressar "solidariedade aos que sofreram com os efeitos da tempestade 'Óscar', prestar a homenagem a todos, elementos da proteção civil, serviços do IPMA, forças de segurança e forças armadas que tanto contribuíram para minimizar os seus efeitos e deixar uma palavra de gratidão ao Regimento de Guarnição nº 3, mais uma vez porto de abrigo e refrigério para os mais atingidos".

Num dia que se comemora Portugal e os portugueses, Ireneu Barreto salientou que esta é a data que, "enquanto comunidade, mais nos deve unir e fazer refletir no nosso percurso enquanto País". E acrescentou: "Celebramos o nosso passado, mas, sobretudo, olhamos para o que queremos do nosso destino comum enquanto Pátria, neste Mundo que caminha, também ele, por 'mares nunca dantes navegados', numa voragem de mudança. E onde cada vez menos teremos oportunidades de parar e pensar para onde vamos, onde estaremos nos anos que virão, e que País deixaremos aos nossos descendentes."

Madeirense e "autonomista convicto" , o Representante da República instou, "em nome das próximas gerações, é urgente e imperioso continuarmos, com energia renovada, a comemorar Portugal" e, fundamentalmente, na Madeira, "não porque haja qualquer necessidade de reafirmar sentimentos de unidade nacional, que ninguém seriamente questiona ou ameaça. Mas porque a realidade que é hoje o nosso País não seria a mesma se não fossem as suas Regiões Autónomas".

"Comemorar o Dia de Portugal é exaltar o nosso humanismo, o nosso universalismo, o nosso sentido inato de justiça e solidariedade, que nos permite renovar a cada ano a esperança num futuro melhor para todos", acrescentou, lembrando que "mais do que números abstratos do crescimento económico, foi a Autonomia quem possibilitou, em passo acelerado, o acesso da generalidade dos cidadãos à satisfação das suas necessidades básicas, a cuidados de saúde modernos, a uma habitação condigna, a uma educação inclusiva e a uma oferta cultural ampla, numa sociedade que é hoje muito menos desigual e injusta".

Ireneu Barreto reafirma que "a Autonomia é uma conquista que deve orgulhar não só os madeirenses e os açorianos, mas todos os portugueses", acreditando que esta Autonomia é "uma construção dinâmica, que pode e deve evoluir" , reforçando que "será sempre legítimo refletir sobre aquilo em que pode ser melhorada, e que os representantes democráticos decidam, em razão dessa reflexão, introduzir mudanças no regime atual".

Desejando ser "um fator de apaziguamento e consenso entre a República e a Região, e entre as forças políticas locais", insta os representantes madeirenses a avançarem mais na Autonomia até onde os poderes o permitirem.

Uma palavra especial às comunidades na África do Sul e na Venezuela, cada um com dificuldades e inseguranças várias quanto ao seu futuro, mas também à guerra na Ucrânia, onde milhares vivem "com medo de uma guerra bárbara, inútil e sem fim à vista, que já matou e feriu tanta gente inocente".

"E aqui, no mundo ocidental desenvolvido e rico, onde ingenuamente consideramos que a democracia e a liberdade são dados adquiridos, vemos crescer os populismos, a xenofobia, a intolerância, o egoísmo e o relativismo ético", disse. "Em todos os casos, é evidente que algo está a falhar. E, se as causas são porventura complexas, sabemos bem, como portugueses ciosos do caminho de oito séculos que nos trouxe até aqui, quais as soluções".

Acredita, por isso, que "precisamos de mais humanismo, precisamos de mais e melhor democracia", porque "hoje, que atingimos níveis de desenvolvimento e justiça social assinaláveis, ainda que insuficientes. E creio que todos devemos e podemos fazer melhor".

No seu discurso, Ireneu Barreto lembrou as responsabilidades do titulares de cargos políticos, da comunicação social e, "também todos nós, cidadãos, podemos fazer muito mais. Podemos e devemos pedir mais a quem nos governa. Sem, porém, exigir resultados impossíveis, que só se podem concretizar na demagogia retórica de quem nunca será solução para os anseios das pessoas comuns. Podemos e devemos interessar-nos assertivamente pelos assuntos da nossa comunidade", advertiu.

Com a proximidade das eleições regionais, refere Ireneu Barreto reforçou que "são hoje evidentes para todos os imensos benefícios, a todos os níveis, que a Democracia e a Autonomia trouxeram à nossa terra" e "a melhor forma que temos de preservar, garantir e defender essas conquistas é participarmos no processo democrático" . E apelou a "todos os que têm o direito de votar que considerem que também têm o dever de o fazer, pois só assim poderão, com o seu voto, que é no fundo a sua arma, influenciar os destinos da nossa Terra".

A cerimónia do 10 de Junho continua com música, declamação de texto premiado sobre a data e a condecoração de instituições homenageadas pelo Presidente da República.