Mundo

Rússia acusa EUA e União Europeia de minarem resolução da situação da Palestina

None

O ministro das Relações Exteriores russo acusou ontem os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia de contornarem uma resolução justa para a questão da Palestina e de minarem o trabalho do Quarteto do Médio Oriente.

Sergei Lavrov presidiu hoje a um debate de nível ministerial no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação no Médio Oriente, com foco na questão da Palestina, onde aproveitou para atacar a posição das autoridades norte-americanas e europeias.

"Os EUA e a União Europeia continuam com as suas tentativas destrutivas de substituir a paz real por algumas meias-medidas económicas e de promover a normalização árabe-israelita, contornando a resolução justa da questão da Palestina e contornando a Iniciativa de Paz Árabe. O Quarteto de mediadores internacionais do Médio Oriente foi vítima disso", disse Lavrov.

O chefe da diplomacia russa referia-se assim ao Quarteto do Médio Oriente - formado pelas Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e Rússia - cujo mandato consiste em ajudar a mediar as negociações de paz no Médio Oriente e de apoiar o desenvolvimento económico da Palestina, assim como preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados.

"Washington reivindica agora o papel de único patrocinador do processo de solução para a região. Não se intimidaram com o facto de há muito terem perdido as características necessárias para um mediador honesto, nomeadamente a neutralidade e a imparcialidade", afirmou.

Na sua intervenção no debate, em Nova Iorque, Lavrov avaliou que o Médio Oriente atravessa hoje uma "transformação profunda", que se está a desenrolar de maneira "muito contraditória".

"Como nunca, é necessário melhorar as relações entre os Estados da região, estabilizar as zonas de conflito e intensificar os esforços para uma solução política e diplomática com base nos princípios da Carta da ONU", disse Lavrov, que tem sido duramente criticado precisamente por violar os princípios da carta das Nações Unidas aquando da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

O debate do Conselho de Segurança sobre a situação na Palestina ficou ainda marcado pelo abandono da sessão por parte do embaixador israelita junto à ONU, Gilad Erdan, em protesto por o evento ter sido marcado precisamente para o "Dia da Memória", um feriado nacional israelita que celebra a memória dos soldados que perderam a vida em conflitos.

Erdan disse que esta data é "uma das mais sagradas para Israel" e que a presidência do Conselho de Segurança - que pertence à Rússia durante o mês de abril - ultrapassou "todos os limites" ao não aceitar o adiamento da reunião.

Para o embaixador, realizar este debate equivale a "recusar-se a respeitar a memória" dos mortos e, para remediar a situação, leu uma lista com nomes de pessoas que morreram em 2022 "vítimas do terrorismo palestiniano", acendeu uma vela e abandonou o salão do Conselho de Segurança juntamente com toda a sua comitiva.

Antes do discurso de Erdan, o ministro das Relações Exteriores da Palestina, Riad al-Malki, havia tomado a palavra, frisando que apesar da comunidade internacional ter condenado publicamente as "violações do direito internacional" por parte de Israel, isso não resultou em ações concretas no terreno, observando que a política israelita "procura abertamente a anexação" de Palestina.

Após a intervenção de palestinianos e israelitas, o debate seguiu pelos moldes habituais, com os países ocidentais a pedir a retomada das negociações e a enfatizar a importância da solução de dois Estados.

A Rússia, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e com poder de veto, assumiu este mês a presidência rotativa do órgão, que tem capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo.

Lavrov viajou para Nova Iorque no âmbito dessa presidência, tendo liderado na segunda-feira uma reunião sobre multilateralismo e hoje o debate sobre o Médio Oriente.

Antes de terminar a sua visita, Lavrov dará ainda uma conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.