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Manifestantes em Paris mantêm mobilização após ser aprovada lei de pensões

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 A aprovação pelo Conselho Constitucional francês da lei das pensões não desmobilizou manifestantes reunidos hoje na praça da Câmara Municipal de Paris, que prometem manter mobilização, com "imaginação", até uma grande manifestação no 1º de Maio.

"Temos de continuar a fazer o que temos feito até aqui e de encontrar novos modos de ação. Hoje, por exemplo, não nos podíamos manifestar junto a Notre Dame durante a visita do Presidente [Emmanuel Macron] às obras na Catedral e houve manifestantes que se foram manifestar para os barcos. É preciso ter imaginação", disse à Lusa Marguerite, que veio até à praça da Câmara Municipal de Paris para protestar contra a decisão do Conselho Constitucional.

Alguns minutos antes e a poucos metros dali, os nove 'sábios' que nas últimas semanas analisaram a lei da reforma do sistema de pensões em França tinham anunciado que a idade da reforma vai mesmo aumentar para 64 anos, rejeitando apenas algumas medidas.

Os 'chumbos' incluíram a criação de um "índice senior", que visava averiguar junto das empresas o número de empregados com mais de 55 anos e assim promover o emprego dos mais velhos.

Esta foi uma decisão que não surpreendeu os manifestantes no centro da capital francesa, que se mostravam mais determinados que nunca a continuar os protestos contra esta reforma e contra Emmanuel Macron.

"Já estávamos à espera e viemos aqui para dizer que, não importa qual fosse a decisão, não são nove pessoas que nem sequer foram eleitas e não representam o povo que vão decidir sobre o nosso futuro", afirmou à Lusa William, estudante na Universidade de Nanterre.

"A nossa manifestação aqui hoje é para dizer que vamos continuar até à retirada desta reforma", frisou o jovem enquanto segurava uma faixa contra a medida governamental.

As autoridades, como medida de precaução, fecharam todo o setor à volta do Conselho Constitucional, que se situa junto ao Museu do Louvre, proibindo qualquer manifestação.

Antes desta decisão, na terça-feira Emmanuel Macron convidou os sindicatos para uma reunião no Eliseu, mas face à aprovação pelo Conselho Constitucional, a intersindical que junta de forma inédita os principais sindicatos de França veio recusar de forma veemente qualquer encontro com o Presidente antes da manifestação do 1º de Maio, Dia do Trabalhador.

Este protesto, segundo os sindicatos, vai demarcar-se das manifestações realizadas desde o início do ano, juntando todos os trabalhadores num dia simbólico em França, e até lá os protestos deverão continuar.

"A nossa força é o número e as nossas greves. Eu sou estudante e a nossa solidariedade entre estudantes, trabalhadores, pessoas no desemprego, para bloquear o país é a nossa força", disse William.

Para Elza, que tem participado em várias manifestações desde o início do ano, "há muitas sinergias que se estão a criar na rua" e "as pessoas estão unidas", ganhando coragem "de falar e de agir".

Este voto do Conselho Constitucional serviu ainda para questionar a utilidade desta instituição, criada em 1958 pelo General De Gaulle, face aos problemas que a França atravessa hoje em dia.

"É preciso uma reforma das instituições, isso é de certeza, porque estas instituições serviram um país saído da guerra, que precisava, nessa altura, de um poder forte centralizado e institucional, mas hoje já não é o caso. O problema é, se retirarmos estas instituições, o que é que vamos ter em substituição? Tenho medo dos extremismos que podem querer substituir as instituições que temos atualmente", declarou Marguerite.

Sophie Binet, secretária-geral da CGT, disse também na manifestação que os protestos "não vão acabar" e que o Governo "não deve promulgar a lei".

A decisão está agora na mão de Macron, que pode nos próximos dias, com o aval do Conselho Constitucional, promulgar o aumento da idade da reforma para os 64 anos. O Presidente deverá falar ao país na próxima semana.