DNOTICIAS.PT
Crónicas

Todos os partidos calçados

Pedro Nuno Santos governará se a esquerda tiver, no somatório, mais votos que os partidos do lado contrário

Os dados estão lançados. Faltava saber quem seria o candidato do PS a primeiro ministro nas eleições legislativas que ocorrerão no princípio do próximo ano e aí está o nome. Pedro Nuno Santos, sem grandes surpresas, venceu as eleições internas, numa disputa um pouco atípica com os resultados a irem sendo divulgados enquanto a maioria dos militantes ainda não tinha sequer votado o que parece no mínimo insólito. Passando à frente, não há dúvida que é uma vitória clara de alguém que já vinha preparando o terreno há muito tempo e que por isso partia naturalmente em vantagem fosse quem fosse o adversário. Percebeu-se pelo decorrer da campanha, um alinhamento claro entre aqueles que se consideravam mais moderados e por isso com ideias mais ao centro contra os mais “radicais”, com uma visão política mais à esquerda.

Salta à vista então que teremos com Pedro Nuno Santos, caso ele vença as eleições legislativas, mais Estado, mais investimento público e mais impostos, muito provavelmente menos apoio às empresas e aos privados. Mas parece claro para toda a gente também que a ténue hipótese de um qualquer alinhamento ao centro, voltando ao registo antigo de dar posse a um Governo de maioria relativa, está definitivamente colocado de parte. Neste momento e pese embora a fragmentação do quadro político português existe uma luta entre dois blocos. A direita e a esquerda. Sendo pouco verosímil que alguém possa vir a obter uma maioria absoluta sozinho, espera-nos assim uma nova geringonça seja de um lado ou do outro mas mesmo dentro destes dois cenários, muitos outros se vão colocando, à medida que vamos ouvindo os atores políticos.

Pedro Nuno Santos governará se a esquerda tiver, no seu somatório, mais votos que os partidos do lado contrário. Ele próprio o disse por diversas vezes que a solução que projecte uma união de esquerda lhe calça muito bem. Aí não parecem existir grandes dúvidas. A dúvida que parece persistir até ao dia das eleições é a de que bloco terá mais votos uma vez que as sondagens apontam para que sejam os partidos mais à direita a ter um maior número de deputados. E aí colocar-se-ão diversas hipóteses. Partindo do princípio que Luís Montenegro não terá uma votação que lhe permita governar sozinho e que não se vislumbra um qualquer pacto com PNS para que quem tiver mais votos possa governar, restará muito provavelmente ao PSD, negociar com o Chega um possível acordo que lhe permita uma solução de estabilidade que inclua ainda a Iniciativa Liberal e o CDS.

A posição do Chega será aliás tema determinante nestas eleições. E que lhe dá no fundo um poder imenso de poder decidir ou exercer influência para, mas que também lhe pode custar algumas decisões difíceis de tomar e que lhe podem afetar a imagem. Se o partido de André Ventura tiver uma votação de 18% para cima não me parece que exista outra hipótese senão incluir o partido num governo, de outra forma o Chega não viabilizará a solução de Montenegro e muito provavelmente boicotará a hipótese do PS apresentar alguma solução alternativa, provocando novas eleições. Num cenário em que o Chega tenha 15% ou menos, aí já me parece mais provável que possa aceitar que o PSD governe, assinando um pacto de estabilidade que não o condicione e que lhe permita insuflar um pouco mais o seu crescimento.

Seja qual for o resultado é evidente que o PS não enjeitará acordos com o PCP, o Bloco de Esquerda, o Livre ou o PAN. Parece por isso pouco acertado da parte do PSD rejeitar liminarmente qualquer tipo de acordo com o Chega. Primeiro porque condiciona em muito as soluções que possam vir a ser apresentadas e depois porque não me parece que o Chega mesmo pejado de quadros fracos e sem nível, seja o bicho papão que lhe querem pintar. Eles quando entram no Governo baixam todos o ruído e tendem a jogar o jogo da nossa democracia. Tem sido assim um pouco por toda a Europa sem casos de grande alarmismo e por isso mesmo, não entendo porque não possa ser assim também por cá.