DNOTICIAS.PT
Artigos

Glocalização – Manter as tradições - Missa do Parto celebrada em Lisboa

Num mundo cada vez mais globalizado torna-se primordial e fundamental reconhecer a importância da nossa origem, das nossas raízes familiares, culturais e das nossas tradições.  É através do contacto com os outros, das relações interpessoais que estabelecemos em todos os contextos em que vivemos e da nossa vivência diária que vamos aprendendo e assimilando a cultura da comunidade onde estamos inseridos. A partir desta interação construímos gradativamente a nossa identidade individual e desenvolvemos as nossas habilidades interpessoais.

Tenho orgulho em ter nascido e crescido na ilha do Porto Santo e de pertencer aquela que para mim é a região mais bonita do Mundo. Pertenço a um povo de “gente humilde, estóica e valente” que sabe que só através “das mãos calosas se atinge os louros da vitória”.  Para conseguirmos projectar e edificar o nosso futuro individual e como nação é essencial termos conhecimento do nosso passado e realizarmos o presente.

É a identidade cultural e a memória que asseguram o nosso património cultural e que nos dão uma identidade como povo. É, pois, importante divulgar, valorizar, proteger e preservar a nossa cultura. Temos o dever de memória de respeitar e valorizar o nosso longo passado, mas também de divulgá-lo. É o que nos distingue dos demais.

Fomos nós portugueses que iniciámos o processo de globalização através dos descobrimentos dando “Novos mundos ao Mundo”.

No próximo dia 16 de Dezembro celebraremos uma tradição Madeirense que remonta aos primórdios do povoamento da Madeira e à influência da ordem Franciscana, ou seja, século XV, XVI, XVII – A missa do Parto.  Será celebrada às 6:30 na paróquia da Divina Misericórdia em Alfragide.

Esta tradição consiste em nove missas, realizadas entre os dias 16 e 24 de Dezembro, que comemoram a gravidez e expectação do parto da Virgem e que culminam com a celebração da Missa do galo, na noite do dia 24, honrando o nascimento do Menino. Habitualmente são celebradas durante a madrugada, ainda antes do nascer do sol, porque esta seria a hora mais conveniente para os lavradores, de modo a não interferir com o trabalho nos campos, que começava cedo, atribuindo-se também ao simbolismo da preparação da celebração de Jesus, que nasce para ser a Luz do mundo.

Na paróquia de Alfragide é apenas celebrada uma missa do parto, mantendo a tradição da novena e a estrutura da celebração como a evocação do Espírito Santo, a ladainha e os cânticos em honra de Nossa Senhora ligados à Virgem do Parto e sobretudo ligados à alegria do nascimento de Jesus.

A missa é animada ao som de instrumentos tradicionais como a braguinha, o rajão, as castanholas e o “brinquinho”, mas também o acordeão e termina em procissão para o adro da Igreja com o cântico “Virgem do Parto, Ó Maria, Senhora da Conceição, Dai-nos as festas felizes, A paz e a salvação”, seguindo-se o momento de confraternização.

A Igreja é decorada com o tradicional bordado da Madeira e junto ao altar a “lapinha” ornamentada com tecido com as riscas tradicionais do Arquipélago da Madeira, as “searinhas” e a fruta. Após a missa teremos convívio ao som da música popular madeirense, e com as iguarias típicas da região alusivas à época como as broas de mel e côco, rosquilhas, sandes de carne de vinha d’alhos, licores e poncha. A missa será presidida pelo Padre João Nélio, padre dehoniano, natural da ilha da Madeira.

A realização desta missa, e o convívio, só é possível com a colaboração de várias pessoas e identidades pelo que é com orgulho  e alegria no coração que gostaria de agradecer ao Exmo. Sr. Secretário Regional do Turismo da Madeira, Dr. Eduardo Jesus, à Associação de Promoção da Região Autónoma da Madeira, aos órgãos de comunicação social, ao Manuel Costa, também ele madeirense e importante dinamizador e companheiro de jornada na organização, a outros amigos pessoais, todo o apoio recebido na preparação e divulgação deste evento, bem como o seu carinho e amizade. Gostaria ainda de agradecer à comunidade local a disponibilidade e o acolhimento, na pessoa do Sr. Padre Paulo Coelho.

Imbuídos pelo espírito natalício desejo que sejamos plenos dos valores da família, da vida fraterna de acolhimento ao próximo e pela partilha. Pede-se a todos aqueles que queiram e possam participar nesta tradição que tragam algo que possa ser partilhado.

Ao longos dos últimos anos a participação tem sido cada vez mais numerosa, atraindo multidões de várias partes do território português, madeirenses e não só. 

Esta iniciativa é não só uma oportunidade para estarmos todos juntos, mas também uma oportunidade de reviver, manter e divulgar as tradições, da “celebração da fé e espiritualidade que marcam a vida da igreja que é um enriquecimento da diáspora madeirense, de todos os pontos da Madeira e do Porto Santo.”

É também meu desejo não só dar a conhecer e partilhar com alegria as tradições da minha Terra mas suscitar em vós a curiosidade de visitar esta região, especialmente nesta época do ano.

Que esta caminhada que culmina com o nascimento do Deus menino faça resplandecer nos nossos corações a alegria do dom da Vida Fraterna, da compreensão e respeito das diferenças, mas com vontade de proximidade de uns com os outros. Que o Seu Amor seja sempre o farol que ilumina e guia a nossa vida e seja aconchego sempre que nos sentirmos sós.