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Igreja Católica não revela para já consequências para padres denunciados por abusos

Grupo VITA reportou ao Ministério Público (MP) e à Polícia Judiciária (PJ) 16 casos de violência sexual no contexto dos abusos na Igreja Católica, e um total de 45 casos a estruturas da igreja

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Os dados relativos a suspensões e afastamentos de padres na sequência de denúncias de abusos sexuais ao Grupo Vita já estão na posse da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), mas não foram divulgados em conjunto com o relatório do grupo.

Em conferência de imprensa em Lisboa, o Grupo Vita apresentou hoje o seu relatório de atividade, no qual divulgou que nos primeiros seis meses reportou ao Ministério Público (MP) e à Polícia Judiciária (PJ) 16 casos de violência sexual no contexto dos abusos na Igreja Católica, e um total de 45 casos a estruturas da igreja, mas as consequências dessas denúncias não foram, para já, divulgadas.

"Quantos padres afastados, suspensos, aplicações de sanções canónicas (...) a CEP já tem esses elementos e oportunamente divulgá-los-á. Achámos que de facto não seria este o momento adequado, porque o momento agora é de apresentação do relatório e do manual de boas práticas", disse na conferência de imprensa, Paula Margarido, presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas.

Paula Margarido fez a declaração na sequência de uma resposta do presidente da CEP, o bispo José Ornelas, que por duas vezes foi questionado sobre as consequências para os padres denunciados sem dar uma resposta esclarecedora.

Segundo o documento da estrutura criada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para o acompanhamento das vítimas de abusos sexuais, além das 16 situações sinalizadas às autoridades para investigação (ficaram de fora os casos em que o denunciado já tivesse morrido ou existisse um processo judicial), foram igualmente comunicados 45 casos às estruturas ligadas à Igreja, das quais 27 para as comissões diocesanas.

O relatório do grupo coordenado pela psicóloga Rute Agulhas indica que foram recebidas 278 chamadas telefónicas entre 22 maio e 30 novembro, englobando não só casos de violência sexual na Igreja, mas também outras formas de violência e ocorrências não relacionadas com a missão do Grupo Vita. As estatísticas indicam que 25% das chamadas recebidas ocorreram ainda em maio, na primeira semana de funcionamento desta estrutura.

A partir dos contactos telefónicos e do 'site' foram identificadas 64 vítimas e uma pessoa (leigo) que alegadamente cometeu crimes sexuais no contexto da Igreja, tendo esta situação já sido anteriormente sinalizada à justiça penal e canónica e sujeita a encaminhamento para apoio psicológico com um profissional da bolsa de especialistas criada pelo grupo Vita.

Até ao momento houve 18 vítimas encaminhadas para apoio psicológico, duas para apoio psiquiátrico, quatro para apoio social, uma para apoio jurídico e quatro para apoio financeiro.

O Grupo Vita pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no 'site' www.grupovita.pt.

Criado em abril, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.

O Grupo Vita surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.