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Crónicas

Rei Costa e o problema da sucessão

Crónica de uma morte anunciada. Este podia ser o ultimo chavão que simboliza de forma objectiva a governação do PS nesta legislatura. Mas quem o podia prever no dia em que venceram de forma contundente as ultimas eleições? Ninguém. Ainda não faz dois anos, estava o Partido Socialista, contra todas a sondagens, a ganhar de forma absoluta e maioritária as Legislativas do nosso país. Comentadores e especialistas da matéria, logo vieram a palco, anunciar que a estabilidade havia chegado. Nessa altura, ninguém ousava prever o que se passou nestes longos dois anos, sobretudo depois de António Costa ter ultrapassado com uma votação ainda mais expressiva uma pandemia que a todos, mas especialmente a quem governa, pôs à prova. Os elogios ao primeiro ministro não cabiam numa crónica. “Um animal politico”, “um vencedor feroz”. Rapidamente se esqueceu que o próprio, havia perdido de forma infantil e com uma certa dose de amadorismo, umas eleições para um PSD coligado com o CDS, acabadinho de sair de uma Troika que fustigou o bolso dos portugueses ao ponto de não se lembrarem de quem os colocou nesse buraco. Não fosse a invenção de uma inédita geringonça e o demissionário PM seria apenas uma nota de rodapé, na história portuguesa.

Esse tempo acabou. Inicia-se agora um novo ciclo no Partido Socialista e importa refletir sobre ele, sendo factualmente o maior e mais vitorioso partido da nossa democracia, o seu novo caminho acabará, mais cedo ou mais tarde por influenciar o caminho de Portugal. E se na mochila que carrega nas costas, está parte do que foi feito nos últimos ( quase ) 50 anos, para o bem e para o mal, o peso dos casos que se sucederam desde Sócrates até ao mais recente, será impossível de aliviar. O que julgam os portugueses sobre o assunto, determinará, em boa parte, os resultados das próximas eleições, seja qual for o candidato. Mas ao contrário do PSD, o partido da rosa tem sabido reinventar e criar novos e poderosos elementos, que não deixam o Largo do Rato órfão, antes antecipam o que já era um cenário altamente previsível. Pedro Nuno Santos tem sobre si, todo o ónus de realinhar e agrupar peças divididas mas acima de tudo a responsabilidade de explicar ao país de que forma pode o partido ser solução nos próximos anos, no meio de tantos casos. E se foi o próprio que puxou para si ao longo dos últimos anos, essa mesma responsabilidade, de certo que não quereria neste tempo e muito menos desta forma.

Ao dia de hoje são dois os candidatos que se perfilam para suceder a António Costa, o super favorito ex ministro das Infraestruturas, supostamente mais colado à ala esquerda do partido e o outsider José Luis Carneiro que representa no fundo e à primeira vista a face da continuidade e um posicionamento mais ao centro. Se a procissão ainda vai no adro, será curioso de perceber de que lado se colocarão nomes importantes como o de Duarte Cordeiro, Carlos César, Augusto Santos Silva ou Ana Catarina Mendes. Seja quem for o vencedor, existirá seguramente um ponto de partida por onde qualquer um terá de começar. Mostrar à sociedade que o PS é muito mais do que um desfilar de compadrios e interesses conseguindo dessa forma inverter e esbater aquilo que tem sido um chorrilho de notícias que ultrapassam em larga escala a esfera nacional, com uma amplificação internacional difícil por esta altura de mesurar.

Como esta crónica é assinada por mim, também me sinto no dever de explanar aquilo que é a minha posição sobre o assunto por muito que possa ser irrelevante para quem a lê ou para os militantes do partido. Nunca em tempo algum me revi na ideologia do Partido Socialista, mas aprendi, com o tempo que na verdade não me revejo de forma plena em partido algum. Acredito cada vez mais que a política são as pessoas independentemente das bandeiras. E devemos votar nelas seja que partido representem. E há no PS duas pessoas que representam tudo aquilo em que acredito na política. António Barreto pela sua independência e António José Seguro pela ética, pelos valores e os princípios. Fazem falta a Portugal homens e mulheres que coloquem os interesses do país à frente dos próprios e não é para todos. Recordo-me da forma como António Costa “roubou” o partido e apunhalou António José Seguro e numa altura de rescaldo também é bom lembrar o seu comportamento discreto ao longo dos últimos anos, em que apenas se deu ao direito de sair da clausura para falar sobre temas de ética e de transparência. Há quem diga que é o Karma eu acho que é apenas o mundo a colocar as ideias nos seus devidos lugares. Tenho saudades dos tempos em que Pedro Passos Coelho liderava o PSD e Seguro o PS. Isso representava o que de melhor a política tem para oferecer. Seriedade, respeito e princípios. Porque como disse Sá Carneiro, “a política sem risco é uma chatice mas sem ética é uma vergonha”.