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Civis israelitas que viveram o ataque ainda estão em estado de choque

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Foto AFP

Durante 15 horas, Inbal Reich Alon ficou fechada num abrigo enquanto homens armados do Hamas matavam e raptavam dezenas de israelitas perto da sua casa, nos arredores da Faixa de Gaza.

Alon conseguiu escapar e agora é refugiada, como cerca de 150 outros residentes do 'kibutz' Beeri, no sul de Israel, num hotel nas margens do Mar Morto.

Esta mulher de 58 anos lembra-se de ter ouvido explosões na manhã de sábado, longe de imaginar a ofensiva massiva do Hamas que matou centenas de israelitas, incluindo muitos residentes da mesma região que ela, e que acreditou ser uma tempestade.

Mas rapidamente Alon percebeu que a sua pequena e unida comunidade estava sob ataque, levando-a, e à sua família, a refugiarem-se num cómodo ponto seguro da sua casa, originalmente projetado para proteger os moradores de lançamentos de foguetes.

O prédio foi incendiado pelos agressores.

"Não tínhamos ideia do que estava a suceder", descreveu Alon em declarações à agência France-Presse, acrescentando que ouviu gritos em árabe.

Durante horas, o marido e os filhos não largaram a maçaneta da porta do abrigo, que não tranca, como é habitual neste tipo de estrutura.

Alojada temporariamente no David Hotel, a mais de 150 quilómetros de casa, Reich Alon acredita agora ter sobrevivido por uma mera questão de sorte.

O destino de muitas outras comunidades que fazem fronteira com a Faixa de Gaza permanece incerto.

Na manhã de segunda-feira, o porta-voz do exército, Daniel Hagari, informou que cerca de 70 terroristas se tinham infiltrado no 'kibutz' Beeri e que a maioria destes fora morta pelas autoridades israelitas.

Em poucas horas, o piso térreo do hotel ficou lotado com doações de roupas, brinquedos, alimentos e produtos de higiene.

"Chegamos aqui com o que tínhamos, alguns de nós estavam descalços", explicou Reich Alon.

Profissionais de saúde mental, todos voluntários, ofereceram apoio aos alojados.

"Estamos no lugar mais seguro possível", disse Alon Pauker, historiador residente na zona fronteiriça de Gaza, enquanto observava o Mar Morto.

"É uma tragédia do tipo 11 de setembro", disse o académico de 57 anos.

"Temos de compreender que já não temos o 'kibutz' que tínhamos e que já não temos o país que tínhamos. É uma mudança tectónica", acrescentou Pauker, para quem a responsabilidade pela guerra também cabe aos líderes israelitas e ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que "abandonou o país".

"O Exército não defendeu os cidadãos", disse Pauker, acusando os militares de estarem "ocupados com outras coisas" na Cisjordânia ocupada, incluindo apoiar políticas governamentais de extrema-direita que incentivam os colonatos - as comunidades israelitas ilegais à luz do direito internacional.

Reich Alon acredita que os atacantes do 'kibutz' "sabiam o que estavam a fazer", enquanto, durante anos, Israel descartou uma ameaça potencial do Hamas.

O movimento dos residentes em 'kibutzs' israelitas, que precedeu a criação de Israel em 1948, tem as suas raízes no socialismo e ainda é tradicionalmente associado à esquerda.

Agora, os residentes de Beeri apoiam uma guerra contra Gaza para livrá-la do Hamas.

"Estamos perante uma organização terrorista que assassinou crianças gratuitamente", afirma Pauker.

Mais de 900 pessoas foram mortas em Israel desde o início da ofensiva no sábado, segundo as autoridades.

Do lado palestino, 687 pessoas foram mortas, segundo as autoridades locais.

Hoje, Israel anunciou que encontrou cerca de 1.500 corpos de combatentes do Hamas no seu território.