A Guerra Mundo

Kiev quer mísseis de longo alcance e tanques para ganhar a guerra

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A Ucrânia pode ganhar a guerra ainda este ano se o Ocidente lhe fornecer equipamento militar mais poderoso, incluindo mísseis de longo alcance e tanques pesados, disse Mykhailo Podoliak, conselheiro da presidência ucraniana, numa entrevista à France-Presse.

"O que acontece hoje na área de Bakhmut ou Soledar é o cenário mais sangrento desta guerra", afirmou na entrevista publicada hoje, referindo-se aos constantes ataques a esta cidade no leste da Ucrânia que Moscovo tenta conquistar há meses.

Podoliak reiterou os pedidos de Kiev aos seus aliados ocidentais: "mais" armas de longo alcance para enfraquecer as linhas russas e avançar nos territórios ucranianos ocupados.

"Só mísseis com um alcance superior a 100 quilómetros nos permitirão acelerar significativamente a libertação de territórios", o que levará ao fim da guerra "no final da primavera, início do verão, ou provavelmente outono", sublinhou.

Sem a entrega de armas mais poderosas, a guerra pode durar "décadas", advertiu o conselheiro da presidência ucraniana, frisando que o fim "só pode ser alcançado com a entrega das armas necessárias".

Os ucranianos já utilizam os sistemas de lança-mísseis norte-americanos Himars (alcance de 80 quilómetros) e acabam de receber equipamento equivalente francês, os LRU (cerca de 70 quilómetros de alcance), mas pedem equipamento como os mísseis norte-americanos Atacms, com um alcance de 300 quilómetros.

Esses mísseis permitiriam chegar aos depósitos de armas russos que Moscovo tem fora da frente e do alcance dos ucranianos, nos territórios ocupados no leste da Ucrânia, explicou Podoliak.

No entanto, o conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garantiu que a Ucrânia "não atacará" alvos em território russo se obtiver as armas de longo alcance, e que Kiev está a "travar uma guerra exclusivamente defensiva".

Kiev também pede armas de artilharia e tanques, incluindo "tanques pesados", como os Leopard alemães, tendo o conselheiro do Presidente referido que são precisos "250 a 300 ou 350 tanques pesados".

Mykhailo Podoliak adiantou que os europeus e os norte-americanos, os principais aliados de Kiev, poderão em breve acelerar as suas entregas de material bélico, porque "entenderam" que esta é a chave do conflito para derrotar a ofensiva russa.

Além disso, a chegada de novos sistemas de mísseis de defesa antiaérea, como os Patriot norte-americanos e alemães ou os Crotale franceses, permitirá neutralizar a ameaça que os bombardeamentos russos representam contra infraestruturas energéticas ucranianas.

"Poderemos fechar os nossos céus no espaço de um mês", detalhou, acreditando que a Ucrânia ficará com capacidade para abater 95% dos mísseis disparados pela Rússia, em vez de 75% atualmente.

O conselheiro da presidência ucraniana considerou ainda a luta pelo controlo de Soledar e Bakhmut, no leste da Ucrânia, como a "mais sangrenta" desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.

Segundo ele, as perdas militares russas são "enormes", referindo "10.000 a 15.000 homens, talvez mais" nesta área desde o verão, mas "o exército ucraniano também está a ter perdas significativas".

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e 11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.