Crónicas

Para proteger, é preciso conhecer

Protegemos o que conhecemos, o que nos é querido, o que ressoa ao nível da identidade, o que, de alguma forma, é parte do nosso ADN, da nossa alma. Será que somos exemplo e guias conscientes na proteção e regeneração do oceano?

"Não pode haver um planeta saudável, sem um oceano saudável”. O mantra é de Peter Thomson, enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Oceano. Revela a urgência de despertar o inconsciente coletivo para a importância, proteção e regeneração do oceano. Como diz o Almirante Gouveia e Melo, “quem não cuida do que é seu, um dia é espoliado.” E desta vez, seremos nós, a espécie humana, a ser espoliada da própria vida. Portanto, parece-me claro que todos os que amam e se preocupam com os seus filhos, com as próximas gerações, devem preocupar-se com o oceano.

Enquanto pais e educadores, queremos inspirar, guiar e capacitar os nossos filhos a tornarem-se responsáveis também, pelos mares. Para isso, temos de ser exemplo de quem conhece e cuida!

Tive o privilégio de conversar e entrevistar o Peter Thomson para a CNN Portugal, na conferência "Selvagens Islands - A Catalyzer for a Sustainable Blue Economy", e também na Selvagem Grande, no dia em que foi justamente homenageado. Peter que nasceu e cresceu nas Ilhas Fiji, lembra que o mar era o seu parque e que mergulhar, livremente, nos recifes do coral, despertou em si uma imensa alegria de viver e querer proteger este planeta. Concorda quando digo que o que acontece na infância não fica na infância, vai connosco para a vida. Portanto, quanto mais experiências de mar partilharmos com as nossas crianças, melhor.

Ora, na Madeira, sinto termos todos, o dever moral acrescido, de educar para o oceano. E isso pressupõe a transformação de consciência e de perspectiva dos pais e educadores. Antes de tentar ensinar a criança, o convite é o de olharmos intencionalmente, com curiosidade para os nossos próprios padrões, respostas automáticas e triggers em relação à proteção, conservação e regeneração do oceano. Olhar primeiro para dentro, para trazer mudança externa. É que as figuras da autoridade também fazem os trabalhos de casa. Praticam o que apregoam. E isto é válido para famílias, escolas, entidades públicas e privadas. Para todos. Só assim transformaremos o paradigma, restituiremos vida ao oceano, salvaremos a humanidade.

O orgulho de ser madeirense, de ser português

As “Ilhas Selvagens são um exemplo para o mundo, quero conhecer e quero que o mundo veja o quão importante é a Área Marinha Protegida das ilhas Selvagens”, a maior do Atlântico Norte, é que “não conseguiremos ultrapassar o problema das alterações climáticas se não cuidarmos bem dos oceanos e aqui, na Madeira, está-se a fazer isso muito bem", destacou Peter Thomson, visivelmente feliz. Que isto nos orgulhe a todos e mantenha acesa a esperança. A Madeira tem autonomia e capacidade para focar numa visão sustentada, na proteção e regeneração do oceano. Para investir, atrair e formar capital humano para a economia azul. Vai, seguramente, saber cativar as novas gerações, pelo exemplo, através de uma liderança consciente e ambiciosa nesta área. Às famílias e escolas peço que ousem mergulhar em profundidade, nesta relação com o oceano. O lobo-marinho também pode ser o animal eleito de muitos pequenotes, assim como as baleias, os cachalotes, os golfinhos, e quem sabe, o prochlorococcus. Chegará o dia em que escutaremos os mais jovens anunciarem, sem hesitação, que querem abraçar a profissão (por exemplo) de: biólogo marinho, engenheiro naval, marinheiro, vigilante da natureza, gestor marítimo, jurista marítimo, especialista em urbanização marinha, comandante de porto, mergulhador.

Só podemos educar para o oceano, se praticarmos uma parentalidade, educação e governação informadas, assumindo responsabilidade, reconhecendo com humildade, tanto o nosso potencial como os nossos limites. E juntos, neste momento difícil dos mares, cá estaremos para navegar, mesmo em águas turbulentas. Conscientes dos lamaçais e areias movediças. Cuidando do que é nosso.

As crianças de hoje são os governantes e líderes mundiais de amanhã. Terão de lidar com grandes desafios, entre eles o aquecimento global, e tomar decisões cruciais para a humanidade. Que sejamos comandantes conscientes!