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Empresas notam maior procura por obras de reabilitação mas têm dificuldade em responder

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As empresas de construção notam uma maior procura por trabalhos de reabilitação, mas, refere quem está do lado da oferta e da procura, a falta de mão de obra tem dificultado e atrasado algumas respostas.

A dificuldade em encontrar quem faça obras de reabilitação ou de manutenção é uma realidade notada pela Associação Portuguesa de Empresas de Gestão e Administração de Condomínios (APEGAC) que, não sendo nova, se agravou neste último ano.

"Este é um problema que se arrasta há alguns anos, no entanto, agravou-se no último ano e, como tal, poderemos dizer que estamos pior do que em 2019", referiu o presidente da Direção da APEGAC, Vítor Amaral, à Lusa, especificando que, os empreiteiros "queixam-se, sobretudo, da falta de mão de obra e, por isso, algumas empresas, recusam-se a dar orçamentos para obras que sejam para realizar durante o corrente ano e, algumas, mesmo durante o ano 2023".

Se, por um lado, a idade média do parque habitacional torna as obras de conservação indispensáveis, Vítor Amaral acentua que, por outro, também "aumentou a preocupação dos condóminos quanto à eficiência energética dos edifícios".

Quando foi ausultada pelo Fundo Ambiental para a preparação de um Aviso para financiamento a condomínios, para obras de conservação em fachadas e coberturas, que proporcionem ganhos energéticos, a APEGAC sugeriu que prazo para o termo das candidaturas seja adiando por um ano.

"[O aviso] tinha a data de termo prevista para setembro ou outubro de 2023 e uma das nossas recomendações foi o de passar o termo para o mesmo período do ano seguinte, precisamente pela dificuldade de encontrar empreiteiros disponíveis para curto ou médio prazo", afirmou.

A par da falta de mão de obra e do impacto que esta tem nos prazos de resposta, Vítor Amaral aponta também a subida, nalguns casos "exponencial" do preço de alguns materiais que já vinha a sentir-se desde o ano passado, mas que se acentuou de forma significativa com a guerra na Ucrânia e que teve como "consequência o adiamento de algumas obras e a revisão e preços".

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em maio, o índice de custos de construção de habitação nova registou um aumento de 13,5%, em termos homólogos, sendo esta evolução das variações homólogas de 18,7% no índice relativo à componente de materiais e de 6,1% no índice relativo à componente de mão de obra.

A mesma informação indica que entre os materiais que mais contribuíram para esta evolução estiveram os produtos cerâmicos, com crescimentos homólogos acima dos 70%, seguidos dos aços, gasóleo, obras de carpintaria e aglomerados e ladrilhos de cortiça, que apresentaram crescimentos homólogos acima dos 30%.

O presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), Reis Campos, referiu à Lusa que o período difícil observado, sobretudo, nos meses de março, abril e maio em relação à subida do preço dos materiais e no atraso na entrega destes, "afetou os compromissos as empresas no cumprimento dos prazos".

"Houve muita falta de materiais, muitos deles de acabamentos, e naturalmente atrasaram alguns trabalhos", referiu, salientando que a legislação, entretanto, publicada sobre a revisão dos preços (que apesar de dirigida às empreitadas publicas acabou também por sensibilizar os particulares para esta questão) e alguma estabilização nos preços dos materiais, faz antever que o segundo semestre deste ano corra melhor e que haja mais condições para se verificar uma "normalização".

A ajudar nesta situação estão também algumas soluções que estão a ser agilizadas como acordos com outros países -- no sentido de dar resposta à falta de mão de obra.

Na empresa Melom, especializada na remodelação de imóveis, a procura por este tipo de trabalhos tem vindo a crescer desde o primeiro confinamento, sendo que neste momento a empresa já está 30% acima do seu "melhor ano de sempre" que tinha sido em 2019.

Porém, adiantou à Lusa João Carvalho, cofundador da Melom, a falta de mão de obra especializada e alguns problemas no fornecimento de matéria-prima têm contribuído para uma "ideia generalizada no consumidor" de que é "muito difícil e penoso" fazer-se obras em casa.

"Este facto preocupa-nos porque pode levar a um abrandamento da procura, devido a esta sensação de que fazer obras atualmente é muito mais demorado e muito mais caro", referiu.

Apesar da maior dificuldade em fazer planeamento, a empresa continua a fazer orçamentos e realizar obras, e que os casos de recusa de obras registados se deverem "exclusivamente à falta de franchisados na zona do pedido", acrescentou.

Ainda assim, João Carvalho refere que, com o aumento das solicitações, estão "a demorar a mais tempo a responder" aos clientes "com um orçamento", sendo esta situação "secundada por um maior tempo de obra".

Salientando ser difícil encontrar bons profissionais em várias especialidades -- pedreiros, ladrilhadores, canalizadores ou carpinteiros -- o cofundador da Melom acredita ser "mais provável" que nestes próximos meses, as empresas de obras melhorem os seus tempos de resposta mais "por decréscimo de pedidos -- devido "às perspetivas económicas que se projetam" -, do que por aumento da capacidade de construir".