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Deserto de notícias em Portugal "vai agravar-se" e o Governo não pode "deixar de olhar para isso", alerta APImprensa

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O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (APImprensa), João Palmeiro, considera, em declarações à Lusa, que o 'deserto de notícias' em Portugal "vai agravar-se e que o Governo "não pode deixar de olhar" para isso.

Portugal tem 61 concelhos sem jornais e rádios de informação com sede, revela o estudo "Deserto de Notícias", que visa saber quais as localidades que não têm noticiário local, com o investigador e autor do trabalho, Giovanni Ramos, a apontar Trás-os-Montes e Alentejo como as regiões mais afetadas.

Questionado sobre se o 'deserto de notícias' pode piorar, João Palmeiro é perentório: "Vai agravar-se, não é pode, vai".

Aliás, "temos todos os indícios de que vai agravar-se", acrescenta, apontando o "aumento do preço do papel, aumento dos custos de impressão, falta de papel".

A título de exemplo, aponta que nos Açores há indicação de que só há papel para poucas semanas.

Quanto ao estudo "Deserto de Notícias", o presidente da APImprensa refere que este resultou de uma iniciativa do investigador Giovanni Ramos, que está em Portugal a fazer o doutoramento.

"Apresentou-nos a ideia e o estudo e nós temos vindo a apoiar", salienta João Palmeiro.

A Associação Portuguesa de Imprensa já conhecia o modelo do estudo, que foi desenvolvido a partir do Brasil e dos Estados Unidos, mas não conhecia ninguém em Portugal que "conhecesse e que estivesse por dentro da metodologia".

E, portanto, "foi a partir daí que nós achámos que isto era uma boa solução, porque, aliás, este conceito tem sido utilizado pelo Google e pelo Facebook a partir dos Estados Unidos para desenvolver as suas políticas de apoio, sobretudo à imprensa regional e local", sublinha João Palmeiro.

O Governo "não pode deixar de olhar para isso", defende o responsável.

Agora, o problema é que o "Governo não tem na sua estrutura nenhuma entidade que sinta a falta deste estudo, não tem nenhuma entidade que tenha capacidade para, no âmbito das políticas públicas para os media, poder mandar fazer estudos destes", lamenta.

O presidente da APImpresa recordou que "a última vez que o Estado mandou fazer um estudo destes foi entre 2011 e 2013".

Um foi o estudo da "Universidade do Minho sobre o porte pago e um estudo do Alberto Arons de Carvalho e do João Paulo Faustino sobre os outros apoios do Estado", exemplificou, enfatizado que esta "foi a última vez que alguma vez se fez um estudo sobre o impacto destes apoios".

Para o responsável, "piores dias virão" para o setor, destacando que "o problema aqui é que depois o Estado, ao contrário, diz 'Ah, mas eu para fazer uma política pública e para gastar dinheiro preciso de saber porque é que o estou a fazer e com base em que estou a fazer'".

Ora, "a única entidade que o Estado participa para poder fazer estes estudos é o Obercom que tem, no entanto, um orçamento limitadíssimo", e que tem "muitos pedidos" para fazer estudos dirigidos a outras áreas, conclui.