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Sanções complicam mas meta russa para neutralidade carbónica será cumprida

As tundras russas são um dos ecossistemas mais frágeis do Planeta.  Foto Shutterstock
As tundras russas são um dos ecossistemas mais frágeis do Planeta.  Foto Shutterstock

O conselheiro do Kremlin para os Assuntos Climáticos referiu hoje que as sanções do Ocidente podem causar "complicações" a curto prazo, mas assegurou que a meta do Presidente russo Vladimir Putin para a neutralidade carbónica será cumprida.

"No curto prazo prevemos algumas complicações relacionadas com restrições sancionatórias ao abastecimento de certos aparelhos e equipamentos, mas isto é ultrapassável", garantiu à agência Lusa Ruslan Edelgeriyev.

O líder da delegação russa na Conferência dos Oceanos em Lisboa, que decorre entre hoje e 01 de julho, assegurou ainda que os objetivos para o "longo prazo não mudam" e que "todas as incumbências do Presidente da Federação da Rússia para atingir a neutralidade carbónica serão cumpridas".

Ruslan Edelgeriyev respondia à Lusa sobre se o conflito na Ucrânia e as sanções impostas pelo Ocidente a Moscovo podem mudar as metas russas em matéria de clima.

Questionado sobre se o aumento da inflação, na Rússia e nos restantes países, pode atrasar a adoção de políticas ambientais por parte das empresas russas, o conselheiro do Kremlin defendeu que "não é tão fácil" continuar a política 'business as usual' ['negócios, como sempre', em português] no âmbito das estratégias ambientais.

"O governo russo decidiu adiar o início da implementação de algumas medidas na proteção ambiental, mas deu um sinal claro às empresas -- após uma pausa temporária, as empresas deverão passar para as novas tecnologias à dupla velocidade. A descarbonização da economia russa prossegue sem parar -- pretendemos alcançar a neutralidade carbónica até 2060", apontou.

Ruslan Edelgeriyev adiantou ainda que surgiram "novas avaliações das organizações analíticas russas" de que o país pode "possa deixar de ter um impacto negativo no clima muito mais cedo".

O enviado de Vladimir Putin à cimeira em Lisboa apontou ainda que as relações de Moscovo "com muitos países ocidentais estão num nível baixo", embora tenha recusado usar a expressão 'isolados'.

"É óbvio, porém, que o mundo não se limita ao Ocidente", retorquiu, nas respostas por escrito enviadas à Lusa.

O diplomata, de 46 anos, antigo primeiro-ministro da Chechénia, realçou ainda que muitos países, principalmente fora do Ocidente, estão dispostos a cooperar com Moscovo embora tenham "votado contra" a Rússia, quando a assembleia geral da ONU aprovou, no início de março, uma resolução que condena a invasão russa da Ucrânia, com o apoio de 141 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas.

"O mundo não é preto e branco. Se dois países têm avaliações diferentes de quaisquer acontecimentos, isso não encerra a possibilidade de interação construtiva entre eles em outras questões, especialmente em questões geralmente significativas como as alterações climáticas, proteção do ambiente marítimo, conservação da biodiversidade e outras", salientou.

Assim, Ruslan Edelgeriyev garantiu que a Rússia está disponível para promover iniciativas, embora "até certo ponto".

"Do nosso ponto de vista, não é tão importante a quem será atribuída esta ou aquela iniciativa - a nós ou a outra parte. Afinal, se a iniciativa for útil, todos serão beneficiados", lembrou, numa referência a eventuais propostas sobre os oceanos na cimeira da ONU que decorre em Lisboa.

Para Ruslan Edelgeriyev, ter sido escolhido por Vladimir Putin para encabeçar a delegação em Portugal é "natural", depois de ter representado o país em outros eventos semelhantes.

"Há pouco [tempo] fui nomeado, pelo Presidente da Rússia Vladimir Putin, como o negociador principal sobre as três convenções de Rio de Janeiro, o que reflete a abordagem unificada do nosso país aos problemas ecológicos e climáticos. Além disso, tenho chefiado o grupo de trabalho intersectorial sobre as alterações climáticas e desenvolvimento sustentável", apontou.

O chefe de governo da Chechénia, entre 2012 e 2018, recusou ainda qualquer receio a um possível boicote à participação russa na cimeira, garantindo ser "adepto de diálogos construtivos".

"Espero que colegas de outros países também coloquem a resolução dos problemas globais de desenvolvimento sustentável à frente das ambições políticas", concluiu.

A Conferência das Nações Unidas sobre os oceanos vai realizar-se em Lisboa, com o apoio dos governos de Portugal e do Quénia, e contará com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.