Madeira

Festas de Santo António pela fé e pelo regresso à normalidade possível

None Ver Galeria

Sexta-feira e ontem a festa foi rija em Santo António. O arraial contou com muita gente, segundo nos contaram numa das muitas barracas de comes e bebes que estão instaladas à volta da igreja paroquial. Hoje o ambiente começava a aquecer, com enfoque na noite deste domingo, com mais música popular e as tradicionais marchas. Mas, sendo uma festa também movida pela fé ao padroeiro daquela freguesia do Funchal, a parte litúrgica tem contado este ano com muito mais gente.

Se fora da igreja não falta gente, dentro da igreja são cada vez mais fiéis que procuram regressar à normalidade e aos seus hábitos de culto. É mesmo isso que conta o Cónego Carlos Nunes, pároco de Santo António que espera que os fiéis pela presença dos fiéis nas homilias de hoje à tarde, proferida pelo bispo emérito D. António Carrilho, e amanhã, dia do padroeiro, homilia que será presidida pelo também bispo emérito do Funchal, D. Teodoro Faria.

É um regresso à "normalidade sem ser normal, pois a pandemia ainda anda aí. As pessoas é que já não têm medo dela", recorda, naquele que será a primeira Festa da Paróquia de Santo António já sem as medidas restritivas, depois de dois anos em que, garante, sentiu tanto um aproximar dos fiéis, como o distanciamento de outros.

"Como sempre estivemos a preparar as festas de Santo António, começando com as trezenas, a partir do dia 30 de Maio, durante 13 dias de celebrações em que fomos preparando a festa do santo. Hoje é a véspera, como que uma vigília de oração para amanhã, então, celebrarmos  a festa do padroeiro Santo António, que é no mesmo dia em que ele morreu, a 13 de Junho", relembra.

Quanto à afluência, "graças a Deus, as pessoas têm aderido", embora seja verdade que "nunca deixámos de celebrar, mesmo em tempo de pandemia, mas este ano há uma maior participação, com desejo de celebração como fazíamos antes e, portanto, há mais gente não só dentro da igreja mas também no exterior, em tudo aquilo que envolve uma celebração festiva mais humana", reconhece.

Para o Cónego Carlos Nunes, que este ano assinala 27 anos como sacerdote, sem ter recebido "qualquer orientação específica", recordando que é importante o distanciamento, "embora seja difícil numa circunstância destas, mas cada um deve adoptar as suas medidas. No exterior tenho andado sem máscara, mas quando há uma maior aproximação ou mais pessoas, procuro proteger-me e aos outros, para que todos celebremos até ao fim da festa", numa pandemia que "continua a estar presente", reforça. Não é por acaso que nos assentos da nave paroquial permanecem as indicações para que os fiéis mantenham o distanciamento social de 'uma cadeira'.

Sobre os tempos difíceis que podem estar a aproximar as pessoas da fé, Carlos Nunes refere que para "muitas pessoas, há uma aproximação da fé", mas "para outros, perderam o hábito e deixaram de participar", faz notar. "Embora a fé seja uma convicção pessoal, a vivência e a prática da fé exige um esforço pessoal. E entra-se num esforço com convicção, mas se depois perdemos o ritmo podemos ficar um bocadinho atrasados. Mas outras pessoas até aproximaram-se, vieram, participaram e continuaram a participar sempre. Ou o fizeram por uma situação de maior dificuldade, também reconheceram que a fé ajuda a ultrapassar essas situações", assinala. "Como em todas as circunstâncias, há a parte positiva das pessoas se terem aproximado da sua fé, e a negativa em que se afastaram. Mas penso que a positiva é sempre maior que a negativa".

Ciente que a mensagem da fé e do amor, nomeadamente aquela que passou Santo António, é capaz de captar a atenção das pessoas, aliás a mesma mensagem que é do Evangelho. "O apelo à vivência do amor de Deus na nossa vida. O apelo sempre à conversão, porque quando não vivemos o amor de Deus estamos a distanciar-nos da fé, sermos fiéis àquilo em que acreditamos", salientou. "Aquilo que Jesus sempre nos mostrou, o amo a Deus e aos irmãos, e que Santo António pregou de uma forma espectacular, na sua sabedoria, com a sua inteligência mostrou-nos que Deus ama-nos e é esse amor que também nós devemos passar ao nosso próximo, para que mostremos que também amamos a Deus", concluiu.

Enquanto isso, lá fora, os comes e bebes, as sardinhas assadas e a carne de vinha d'alhos, os sumos e cerveja, a poncha, ajudam a criar o ambiente de uma arraial que a freguesia de Santo António já não sentia há três anos - a última tinha sido em 2019 -, e que este 2022 veio trazer como presente. Mas nunca esquecendo que o vírus continua aí.