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Missão da ONU no Mali terá que se adaptar ao fim do apoio militar francês

Foto DR
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Uma eventual reconfiguração do apoio das forças francesas à missão da ONU no Mali (Minusma) teria "consequências" para estas, às quais teria de se adaptar, considerou hoje o porta-voz do contingente das Nações Unidas, Olivier Salgado.

A afirmação de Olivier Salgado foi feita em resposta a uma questão colocada pela agência de notícias francesa AFP sobre se a Minusma estava preocupada com as repercussões da recente denúncia, pela junta maliana, dos acordos de cooperação militar com a França.

O mandato do Conselho de Segurança da ONU para a Minusma permite que a força francesa que combate o extremismo islâmico, Barkhane, preste apoio ao contingente da ONU caso esta o solicite, "no caso de ameaça grave e iminente".

"Agradecemos muito este apoio, que é um aspeto importante do dispositivo que visa reforçar a segurança dos nossos 'capacetes azuis' e facilitar a condução de nossas operações de apoio às populações e instituições malianas", acrescentou Olivier Salgado.

"Se a situação evoluir neste ponto, isso obviamente induzirá consequências que a nossa sede e nós mesmos, ao nível da missão, teremos que levar em conta nos planos de adaptação", salientou.

No estado atual, a Minusma "continua as suas atividades e a execução do seu mandato de apoio aos malianos, adaptando-se, se necessário e no quadro definido pelo Conselho de Segurança, à evolução da situação no terreno", destacou.

Após meses de animosidade, as autoridades malianas controladas pelos militares que chegaram ao poder pela força em agosto de 2020 anunciaram na segunda-feira que consideravam nulo e sem efeito o tratado de cooperação no domínio da defesa assinado de 2014 com a França, bem como os acordos de 2013 e 2020 que estabelecem o quadro da presença da operação Barkhane e o reagrupamento das forças especiais europeias Takuba, iniciadas pela França.

Esta decisão levanta questões sobre o seu possível impacto nas condições da retirada atual retirada da Barkhane, mas também na continuidade das suas operações até à conclusão desse processo, dentro de alguns meses.

A denúncia dos Acordos do Estatuto das Forças (Status of Force Agreements, ou Sofa, segundo a sigla em inglês), que fixam o quadro jurídico da presença no Mali das forças francesas Barkhane e europeia Takuba, bem como em matéria de defesa concluído em 2014 entre o Mali e a França, foi feita pelo coronel Abdoulaye Maiga, porta-voz do governo maliano, na televisão nacional.

O coronel Abdoulaye Maiga justificou a decisão invocando em particular "múltiplas violações" do espaço aéreo por parte de aviões franceses apesar do estabelecimento de uma vasta zona de exclusão aérea.

Na terça-feira, a França classificou como "injustificada" a decisão dos militares.

"Informada, em 02 de maio, da decisão unilateral das autoridades de transição malianas de denunciar" esses acordos, a França "considera a decisão injustificada e contesta formalmente qualquer violação do quadro jurídico bilateral que seria atribuível à força Barkhane", reagiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, em comunicado.