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Crescimento da economia desacelera, apesar do ímpeto do turismo externo

Foto Shutterstock
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O crescimento da economia portuguesa deverá desacelerar ao longo do ano, mas Portugal deve conseguir manter-se como o país que mais cresce na zona euro, puxado pelo turismo, mas também pelo efeito base, segundo economistas ouvidos pela Lusa.

A Comissão Europeia vê a economia portuguesa a registar a maior expansão do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, segundo as últimas previsões divulgadas, devido sobretudo à recuperação do turismo, um cenário que os economistas consultados pela Lusa assumem como plausível, apesar de parte da explicação residir na comparação com o ano passado.

O PIB de Portugal cresceu 2,6% em cadeia e 11,9% em termos homólogos no primeiro trimestre, acima do esperado pelos economistas na altura. No entanto, deverá desacelerar ao longo dos próximos trimestres.

"É um facto que Portugal cresceu no primeiro trimestre muito acima do que qualquer analista esperava. O facto de a inflação também ser mais moderada sinaliza que estamos a ganhar competitividade externa", frisa Pedro Brinca, economista e professor da Nova SBE.

O professor universitário salienta que o setor do turismo revela "uma forte dinâmica de recuperação" e, "em termos da vulnerabilidade, quer energética quer de segurança, ao conflito ucraniano é provavelmente a menor, ou pelo menos das menores, de toda a Europa".

"Se tivermos em linha de conta que a economia portuguesa foi das que mais contraiu durante a pandemia, todos estes fatores ao que se soma o efeito de base baixa, podem alinhar-se e o otimismo do Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia materializar-se", acrescenta.

João Borges Assunção, coordenador do Católica-Lisbon Forecasting Lab (NECEP), considera que as previsões de Bruxelas refletem, sobretudo, o facto de o primeiro trimestre deste ano ter tido um crescimento "bastante forte", combinado com um ano de 2021 ainda muito influenciado negativamente por trimestres fracos, em que o grau de restrição à atividade económica foi muito acentuado.

"O crescimento trimestral em cadeia é moderado a partir de agora, pelo que reflete apenas uma confiança moderada na evolução da economia portuguesa", refere, acrescentando que "os crescimentos em cadeia poderão continuar a ser bastante irregulares devido à incerteza e aos deflatores do comércio externo", apesar de a economia "parece ter regressado aos patamares de 2019".

Também António da Ascensão Costa acredita que, com os dados atuais, a previsão da Comissão Europeia para Portugal parece realista e até poderá ser superada, dando nota de que, além do efeito base, a distância de Portugal face à guerra na Ucrânia beneficia o país.

"No presente, a distância de Portugal ao teatro de guerra na Europa e as menores ligações diretas às economias envolvidas, também deverá ter, inicialmente, menores impactos negativos em Portugal do que noutros países europeus", justifica.

Ainda assim, considera que espera ao longo do ano "uma progressiva desaceleração do crescimento em cadeia".

"O crescimento de 2,6% registado no 1.º trimestre deverá reduzir-se substancialmente nos próximos trimestres para níveis apenas ligeiramente positivos à medida que a economia vá repondo os níveis de atividade anteriores à pandemia. Depois torna-se mais difícil crescer até porque, como toda a União Europeia, deveremos começar a ser afetados pelos efeitos indiretos da guerra em termos de inflação e procura externa", justifica.

Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, assinala, no entanto, que, segundo a Comissão Europeia, o crescimento acumulado de Portugal entre 2019 e 2023 será de 4,4%, "quase idêntico ao da UE (4,2%)".

Uma das alavancas para o crescimento da economia nacional este ano é, segundo a generalidade das instituições de análise económica e os economistas consultados, a recuperação do turismo externo.

António da Ascensão Costa salienta que tudo indica que a recuperação da procura turística externa terá continuidade nos próximos trimestres e tenderá a aproximar-se, em volume, dos níveis registados em 2019.

"O crescimento do investimento, ajudado pelo Plano de Recuperação e Resiliência, e em particular o crescimento da construção, também parecem prováveis à luz dos dados atuais, apesar de alguns problemas operacionais criados pelo surto inflacionista, nomeadamente no custo dos materiais e na sua escassez", refere o economista.

Também João Borges Assunção acredita que turismo deverá dar um importante contributo, com este verão a "ser melhor do que nos anos de 2020 ou 2021", um cenário que no caso do imobiliário "é mais ambíguo", até porque, assinala, o ambiente de taxas de juro está a alterar-se muito rapidamente.

Contudo, Pedro Brinca mostra-se mais cético. "Existe a ideia de que o setor do turismo beneficiará do conflito na Ucrânia, fazendo com que turistas evitem aquela zona do globo e possam ver Portugal como alternativa. A ideia é que um cenário semelhante ao da primavera árabe poderia contribuir para uma recuperação forte do setor. Eu não estou tão otimista relativamente ao contributo desse fator", afirma.

Para o professor da Nova SBE, a região da Ucrânia e/ou da Rússia não é uma concorrente direta da tipologia de turismo oferecida por Portugal, ainda que admita que, com o fecho do espaço aéreo da Ucrânia e Rússia, viagens do centro/norte da Europa para a Ásia se tornem mais longas e mais caras, o que pode promover a competitividade dos destinos em Portugal.

"Relativamente ao imobiliário, este tem-se tornado extraordinariamente resiliente. Previu-se um forte abrandamento por altura da pandemia, mas verificou-se precisamente o oposto, com as disrupções das cadeias de abastecimento e mudanças na estrutura de trabalho trazidas pela pandemia", vinca, acrescentando que "também agora se prevê que o aumento das taxas de juro já em julho possa condicionar a procura e abrandar a atividade", o que torna "difícil prever".